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Técnica que flagra dinheiro falso é usada para rastrear bebida adulterada com metanol

8 de outubro de 2025

Por José Maria Tomazela, do Estadão

São Paulo, 08/10/2025 – Uma técnica como a usada para identificar dinheiro falso está sendo utilizada pela Polícia Científica de São Paulo para detectar bebidas adulteradas. A embalagem é colocada em um equipamento que auxilia os agentes a identificar relevos dos rótulos, carimbos da garrafa e comparar com os originais.

“Um selo falso é indicativo de que pode ter havido reutilização de uma garrafa autêntica para a inserção de líquido falsificado”, diz a perita criminal Nícia Harumi Koga, diretora do núcleo de Documentoscopia.

Foi essa análise que permitiu a prisão de um dos principais fornecedores de insumos para falsificação de bebidas alcoólicas de São Paulo, no último dia 3, na zona norte da capital. O suspeito montou uma rede para comprar garrafas de bebidas que eram reutilizadas e recebiam rótulos falsos, tampas, selos de autenticidade e caixas que simulavam os produtos originais. “A olho nu ficaria difícil notar a falsificação”, diz Nícia.

Como funciona

O Comparador Espectral de Vídeo amplia as imagens e permite comparar elementos gráficos e identificar as diferenças, a começar pela qualidade do material usado no rótulo, passando pelo relevo da impressão e outros detalhes. Em seguida as amostras passam por testes em laboratório, onde é possível detectar substâncias estranhas ao produto, inclusive as que oferecem rico à saúde, como o metanol.

Como nos casos de outros crimes, inclusive homicídios, os peritos buscam nas embalagens e amostras os vestígios deixados pelos criminosos, no caso, os falsificadores, no ambiente do crime. No caso do dia 3, tanto os rótulos quanto o líquido das garrafas estavam adulterados.

Com as evidências em mãos, policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) prenderam o suspeito e fecharam os dois imóveis usados como fábricas de bebidas falsas. As bebidas foram apreendidas e, a partir da análise de todo o material, que está sendo feita pela Polícia Científica, será possível identificar até a gráfica que produziu os rótulos falsos.

Além da presença, quantidade

Mesmo quando a embalagem e rótulos são originais, há possibilidade de que o conteúdo da garrafa tenha sido adulterado. Havendo suspeita, amostras são encaminhadas ao Núcleo de Química, onde passa por testes para verificar a presença de metanol na bebida. Os peritos analisam a composição química do líquido e, em seguida, utilizam equipamentos como o espectrômetro de massa e o cromatógrafo, que identificam e separam os componentes da amostra.

Essa tecnologia permite medir com precisão a quantidade de metanol existente no líquido e determinar se ela ultrapassa os níveis tolerados. “Não basta dizer se há ou não metanol. É preciso identificar quanto existe e se está acima da quantidade normal já presente em algumas bebidas”, explicou o perito Alexandre Learth, do Centro de Exames, Análises e Pesquisas (Ceap).

Os peritos também comparam as amostras de bebidas suspeitas com os padrões da bebida original, fornecidos pelos fabricantes. Com isso, eles conseguem confirmar se a bebida corresponde à composição de um produto autêntico ou se foi adulterada.

As investigações apontaram que as bebidas falsificadas apresentam concentrações de metanol muito maiores do que as encontradas em produtos regulares. Learth alerta que a ingestão de apenas 10 mililitros da substância pode causar lesões no nervo óptico e, em doses iguais ou superiores a 30 mililitros, levar à morte.

Sete mil garrafas apreendidas

A Polícia Científica atua em parceria com as polícias Civil e Militar no combate a laboratórios e fábricas clandestinas de bebidas adulteradas no Estado. No total, cerca de 60 operações foram realizadas em bares, festas, distribuidoras e fábricas clandestinas.

Nos últimos sete dias, mais de 7 mil garrafas com suspeita de falsificação foram apreendidas, além de tampas, rótulos e outros insumos usados na produção.

O órgão vinculado à Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) teve seu início com a criação do Instituto Médico Legal (IML) em 1886. O Instituto de Criminalística, mais especializado, foi fundado em 1924. Em 1998, foi criada a Superintendência de Polícia Técnico-Científica, com sede na capital.

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