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Soja: eventual acordo EUA-China pode garantir 10 milhões de t de compras aos americanos

21 de outubro de 2025

Por Gabriel Azevedo

São Paulo, 21/10/2025 – Um eventual entendimento comercial entre Estados Unidos e China que inclua soja pode garantir cerca de 10 milhões de toneladas de compras chinesas do grão no curto prazo, volume suficiente para os EUA atingirem a meta de exportações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de 45,8 milhões de toneladas neste ano comercial, segundo o economista-chefe de commodities da StoneX Arlan Suderman.

O presidente Donald Trump afirmou no fim de semana estar otimista sobre um acordo com Xi Jinping durante a conferência da Apec, na próxima semana, na Coreia do Sul. “O mercado segue guiado por manchetes”, disse Suderman, em comunicado.

A StoneX calcula que a China ainda precisa importar 10 milhões de toneladas de soja para cobrir o déficit até fevereiro, quando a nova safra brasileira, mais barata, chega aos portos chineses. Sem o acordo, as exportações americanas devem ficar em torno de 41,6 milhões de toneladas.

Se a China não comprar nenhum volume ao longo do ciclo, as exportações americanas podem cair para cerca de 38 milhões de toneladas, mesmo com o recorde de vendas para outros destinos fora do mercado chinês. Já um acordo que garanta 10 milhões de toneladas de soja seria suficiente para que os Estados Unidos cumprissem a meta do USDA, reduzindo os estoques finais abaixo de 8,2 milhões de toneladas e dando sustentação adicional aos preços, afirmou Suderman.

No ano passado, a China importou 22,9 milhões de toneladas de soja dos Estados Unidos. Em agosto, Donald Trump chegou a dizer que pretendia forçar Pequim a comprar quatro vezes esse volume, proposta que Suderman classificou como “impraticável”.

A demanda interna americana continua forte. O relatório da Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas (Nopa) mostrou que o esmagamento de soja nos Estados Unidos em setembro foi de 5,38 milhões de toneladas, acima de todas as expectativas do mercado, cuja média era de 5,07 milhões de toneladas. O volume ficou 11,6% acima do registrado em setembro de 2024, segundo a entidade. Os estoques de óleo de soja subiram para 1,24 bilhão de libras, superando a projeção média de 1,22 bilhão e permanecendo em trajetória de redução no acumulado do ano.

O próximo relatório mensal de oferta e demanda do USDA, o Wasde, deve ser divulgado apenas em novembro, em virtude da paralisação parcial do governo americano, que já dura 20 dias. “Sem acordo com a China, espero um corte substancial nas exportações projetadas. Com acordo, o relatório deve incorporar os novos volumes”, afirmou Suderman.

O 4º Plenário do Partido Comunista da China, iniciado ontem (20), também pode influenciar o tom das negociações entre Xi Jinping e Washington. A reunião define as diretrizes políticas e econômicas do país para o período 2026-2030 e serve como espaço para o presidente consolidar autoridade dentro do partido. “Se Xi sair politicamente fortalecido, tende a adotar uma postura mais firme. Se houver sinais de desgaste, pode buscar um acordo mais rápido”, avaliou.

Suderman avalia que um eventual acordo dificilmente incluirá minerais de terras raras de alto grau, insumo estratégico da indústria de defesa. “A China deve manter posição firme nesse ponto. Mas mesmo um pacto limitado, voltado a grãos e insumos industriais, já teria força para reduzir tensões e reaquecer a demanda pela soja americana no curto prazo”, afirmou.

Contato: gabriel.azevedo@estadao.com

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