Por Geovani Bucci
Aliados do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), admitem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recuperou popularidade nos últimos meses. Ainda assim, o núcleo político do republicano relativiza o mérito do Palácio do Planalto nessa melhora e atribui o movimento à atuação recente do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Interlocutores de Tarcísio afirmaram ao Broadcast Político que o parlamentar tem se tornado o “maior cabo eleitoral de Lula” e que “só faz gol contra”.
Evidentemente, não se trata de afirmar que todas as ações do governo sejam negativas, dizem esses Interlocutores. O Broadcast Político apurou que o governador considera positiva a aprovação do projeto de lei que isenta do Imposto de Renda (IR) quem ganha até R$ 5 mil por mês e reduz gradualmente a alíquota para rendimentos de até R$ 7.350 mensais. Na avaliação de Tarcísio, a medida representa um alívio sobretudo para a classe média, e a qualidade do texto teria sido refletida na aprovação unânime pela Câmara. Apesar disso, aliados de Tarcísio atribuem a recente maré favorável a Lula à atuação de Eduardo.
O filho “03” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está nos Estados Unidos desde o início de 2025. Em março, ele se licenciou do Parlamento e anunciou que permaneceria no país para buscar “sanções aos violadores dos direitos humanos” – em referência ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a outras autoridades que, segundo ele, estariam alinhadas ao magistrado, contra seu pai, condenado por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes.
Desde então, o cenário foi marcado pelo tarifaço imposto pelo presidente americano Donald Trump, pelas sanções e ameaças subsequentes e até pela exibição de uma bandeira dos EUA na Avenida Paulista em um ato de apoiadores de Bolsonaro. Esses episódios acabaram fortalecendo o discurso de soberania nacional adotado por Lula e, segundo aliados, contribuíram para impulsionar sua popularidade e ampliar as chances de reeleição do petista. Como se não bastasse, a tentativa de sustentar um antagonismo entre Trump e Lula perdeu força quando o presidente americano passou a elogiar o petista e a adotar um tom conciliador.
Os ataques de Eduardo Bolsonaro e do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) a governadores de direita têm sido interpretados por aliados de Tarcísio como “gols contra” que enfraquecem o próprio campo político. Para o governador paulista, segundo relatos feitos à reportagem, o momento exige coesão entre as forças conservadoras diante do avanço do petismo, uma vez que, em sua avaliação, o eleitorado já apresenta um grau de cristalização nas preferências.
Tanto em declarações públicas quanto em conversas reservadas, Tarcísio tem reafirmado que não pretende disputar a Presidência da República, ainda que conte com o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na sua visão, a direita deveria concentrar esforços em torno do governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), apontado por ele como um nome mais viável para liderar o campo em 2026, como informou o Broadcast Político.
A aliados, o republicano tem reiterado que o centro político será o fiel da balança na disputa presidencial de 2026. Segundo relatos, o governador reconhece que o presidente Lula começa a corrida em vantagem por dispor da máquina pública e por ter recuperado parte da popularidade nos últimos meses – impulso que, em sua avaliação, decorre diretamente do impacto do tarifaço norte-americano na opinião pública.
Tarcísio tem ponderado, no entanto, que essa alta de popularidade tende a ser passageira. Na sua leitura, caso Lula conquiste um novo mandato, enfrentará um cenário semelhante ao de “um segundo governo Dilma (Rousseff)”, ao ser obrigado a reverter medidas de impacto fiscal tomadas agora para conter gastos. O cenário poderia representar um arrependimento para uma parcela dos eleitores.
Em tom bem-humorado, Tarcísio costuma ilustrar a análise com uma metáfora futebolística: “Quiseram trazer o Felipão de 2002, mas acabaram trazendo o Felipão de 2014.”
