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Exclusivo/Itaú/Pedro Schneider: estrangeiro questiona risco de crédito privado e juro no Brasil

21 de outubro de 2025

Por Aline Bronzati, enviada especial

Os casos de deterioração de crédito da Ambipar, Braskem e Raízen foram alvo de questionamentos de investidores estrangeiros durante as Reuniões Anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI). Além do risco de crédito privado no Brasil, os juros elevados no País – uma das razões para o temor de crises corporativas – também estiveram entre as principais dúvidas nesses encontros, que ocorreram em Washington ao longo desta semana.

“Foi um ponto que despertou muito interesse dos investidores, pelo menos de entender o que está acontecendo. Com juros mais altos do que no passado, aumentam as chances do surgirem não-linearidades”, diz o economista do Itaú Unibanco, Pedro Schneider, em entrevista à Broadcast, às margens das reuniões anuais do FMI.

De acordo com ele, trata-se de eventos que não são capturados pelos modelos econômicos dos bancos, diferentemente do aumento da Selic ou da desvalorização do câmbio. “O que temos de monitorar é se são casos por má administração ou porque as condições financeiras realmente estão muito apertadas, e isso causa problemas”, afirma.

A visão geral, por ora, é que os problemas de crédito que surgiram recentemente no Brasil são “específicos”, e não devem se espalhar pela economia, avalia o economista. “Não tem risco sistêmico, até porque o Brasil vem crescendo com juros altos. Mas acabam chamando a atenção”, pondera.

Isso porque quando os investidores estrangeiros olham para o Brasil, eles se valem de uma lente comparativa com o resto do mundo. E o foco está em duas frentes: juros altos e a situação das contas correntes. Enquanto os investidores estrangeiros buscam uma antecipação do ciclo de corte das taxas de juros, os locais têm uma visão mais de postergá-lo, diz Schneider.

Durante as reuniões do FMI, a mensagem dos diretores do Banco Central (BC) foi de reforçar a comunicação oficial, segundo ele. “Os membros querem esperar mais antes de cortar, a depender dos dados”, diz o economista do Itaú. Os sinais foram interpretados como ‘hawkish’ pelos investidores. Os diretores de Política Monetária, Nilton David, e de Assuntos Internacionais, Paulo Picchetti, participaram de reuniões com investidores às margens dos encontros anuais do FMI, mas evitaram apontar apetite por mexer nos juros, hoje em 15% ao ano.

Por sua vez, a situação da conta corrente chama atenção do investidor estrangeiro porque também piorou mais do que no resto do mundo, segundo o economista. “É mais um sintoma de uma economia que cresce acima do potencial, que acaba vazando para a conta corrente, do que a sensação de que está tendo uma crise, uma fuga de capitais do Brasil”, explica.

O economista do Itaú lembra ainda que há questões estruturais, como as empresas de streaming, que remetem os lucros para fora do País. O mesmo ocorreu no passado com as casas de apostas, obrigadas a ter domicílio no Brasil para poder atuar no mercado doméstico.

Já a situação fiscal segue sendo um “desafio importante” para o País e mantém o investidor em compasso de espera, embora as contas públicas também tenham piorado no resto do mundo. O problema é que o Brasil tem muitas regras fiscais, mas não as cumpre, diz. Ele projeta que a dívida pública brasileira voltará a crescer mais que a do restante do mundo à frente.

“Passamos o último ano e meio discutindo muito R$ 20 bilhões para cá, R$ 10 bilhões para lá, em mundo de ajustes de R$ 300 bilhões e sem perspectiva disso melhorar”, alerta Schneider, referindo-se à derrota do governo com derrubada da medida provisória (MP) alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Mas, segundo ele, a dificuldade de fazer um ajuste fiscal não é só no Brasil e se repete em países como Estados Unidos, em pleno shutdown, França e Japão. Todos vivenciam o mesmo problema: a polarização, com eleições mais disputadas, deixa os governos com “a corda no pescoço” e faz com que eles foquem em ações de retorno no curto prazo.

O economista critica ainda o hábito de “fulanizar” o potencial de um ajuste fiscal – creditar a um eventual candidato à Presidência a esperança de colocar as contas públicas do país em ordem. “Fulanizar é sempre complicado porque você corre um risco de errar. O mundo todo acaba individualizando muito – é o Lula, é o Trump é o Macron -, mas, no fim, todos esses países tem três poderes e a polarização acaba atrapalhando”, diz.

Quanto ao interesse do estrangeiro pela corrida ao Planalto, o economista acredita que ainda é cedo. De acordo com ele, o tema será pauta das Reuniões de Primavera do FMI, em abril do ano que vem. Como ainda não se sabe quais serão os candidatos, por ora, a curiosidade do gringo se limita a saber o que está no preço hoje, conclui o economista do Itaú.

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