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Economistas alertam para déficit de conta corrente acima do esperado, amenizado pelo IDP

24 de outubro de 2025

Por Marianna Gualter, Cícero Cotrim, Caroline Aragaki e Gustavo Nicoletta

Brasília e São Paulo, 24/10/2025 – O rombo de US$ 9,774 bilhões nas transações correntes de setembro acendeu o alerta entre os economistas, que veem deterioração rápida do balanço de pagamentos em meio a uma economia ainda aquecida e a saídas robustas de lucros e dividendos. A maioria, contudo, ressalta que o choque foi parcialmente neutralizado pelo ingresso histórico de Investimento Direto no País (IDP), o que mantém a solvência externa no curto prazo, mas não afasta a necessidade de ajuste fiscal para conter déficits maiores à frente.

O déficit de setembro – o maior para o mês na série do Banco Central – superou a mediana das projeções (US$ 7,80 bi) e levou o saldo negativo a US$ 56,905 bi no ano. Em 12 meses, o buraco avançou para US$ 78,9 bi, ou 3,61% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 3,53% em agosto. Já o IDP alcançou US$ 10,671 bi, bem acima da estimativa de mercado de US$ 6 bi, somando US$ 63,320 bi em 2025 e 3,47 % do PIB em 12 meses.

“A economia superaquecida impulsionada por uma política fiscal frouxa (grandes poupanças negativas do setor público) está pressionando as contas externas”, afirma Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs. Segundo ele, as remessas de lucros e dividendos – US$ 7,6 bi no mês – ampliam o déficit, mesmo com o superávit comercial de US$ 2,3 bi. Ramos acrescenta que “um ajuste fiscal profundo é fundamental para permitir um ajuste estrutural permanente da conta corrente e criar espaço para um aumento do investimento sem piorar o balanço externo”.

Na mesma linha, Luíza Pinese, economista da XP, projeta que “em 2025 o déficit em conta corrente deve ultrapassar o ingresso de IDP pela primeira vez desde 2015”, chegando a US$ 79,5 bi (3,5 % do PIB) contra IDP de US$ 72,6 bi. Ela destaca que, apesar das exportações de soja, carne, veículos e minério de ferro, “a deterioração do balanço de pagamentos neste ano merece atenção” em razão da conta de renda primária.

O Bradesco vê parte da piora como pontual: “Não esperamos que esse efeito se repita nos meses subsequentes”, diz relatório do banco ao lembrar que a importação de uma plataforma de petróleo de US$ 2,3 bi comprimiu o superávit comercial de setembro. Mesmo assim, a instituição nota que “as saídas de lucros e dividendos foram maiores que o esperado” e que o déficit de rendas “tem piorado desde o final da pandemia”.

Embora divergências apareçam sobre a magnitude do problema, há consenso de que o IDP continua sendo âncora importante. O próprio Bradesco ressalta que as entradas de investimento produtivo, equivalentes a 3,5 % do PIB em 12 meses, reduziram o hiato frente ao déficit de conta corrente para apenas 0,1 ponto. Para Ramos, contudo, apoiar-se apenas nesse influxo “não substitui a consolidação fiscal” necessária para equilibrar as contas externas de forma sustentável.

Entre os exemplos que ilustram o diagnóstico, analistas lembram a importação da plataforma – fator que deve perder força já em outubro – e as fortes remessas corporativas, que somaram US$ 5,4 bi, superando agosto e setembro de 2024. Do lado positivo, o IDP recorde foi puxado por reinvestimento de lucros, sinalizando confiança no mercado doméstico mesmo em ambiente de juros altos.

Contato: cicero.cotrim@broadcast.com.br; marianna.gualter@broadcast.com.br; caroline.aragaki@estadao.com; gustavo.nicoletta@estadao.com

*Conteúdo gerado com auxílio de Inteligência Artificial, revisado e editado pela Redação da Broadcast

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