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Axia Energia aposta em divisão entre lotes e sai como maior vencedora de leilão de transmissão

31 de outubro de 2025

Por Luciana Collet e Ludmylla Rocha

São Paulo, 31/10/2025 – A Axia Energia (ex-Eletrobras) sagrou-se como a maior vencedora do leilão de transmissão realizado hoje, 31, em São Paulo, agregando à sua carteira novos projetos que demandarão cerca de R$ 1,6 bilhão em investimentos e propiciarão, quando operacionais, R$ 138,7 milhões de receita anual permitida (RAP).

A empresa fez lances por quase todos os lotes, mas foi mais agressiva na estratégia dos 6 e 7, que correspondem à instalação de compensadores síncronos em subestações em Minas Gerais e Rio Grande do Norte. Esses equipamentos devem colaborar para o aumento da capacidade do sistema de transmissão, e estarão em áreas estratégicas para contribuir para o escoamento de energia renovável.

A companhia ofertou deságios combinados de 51,17% pelos sublotes A e B do lote 6, e de 45,14% pelos sublotes A e B do lote 7, embora tenha feito lance sem deságio pelos projetos de forma integrada. Com isso, evitou eventuais disputas a viva-voz pelos lotes inteiros.

O vice-presidente de Engenharia de Expansão da Axia Energia, Robson Campos, explicou que a estratégia considerou que não havia grande sinergia entre os sublotes, o que viabilizaria o desenvolvimento de projetos específicos, se fosse o caso. Destacou também que a empresa tem vasta experiência na operação desses equipamentos e poderá ainda utilizar vantagens tributárias.

Nos cálculos do analista Bernardo Viero, da Suno Research, a expectativa é de uma entrada em operação no início do segundo semestre de 2028, considerando antecipações de 12 meses na conclusão das obras, com uma geração adicional de Ebtida (resultado operacional) conjunta na faixa de R$ 150 milhões a partir de 2029, primeiro ano de resultados “cheios”.

No todo, o certame teve deságio médio de 47,98% ante a Receita Anual Permitida (RAP) máxima estipulada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de R$ 936 milhões. A economia estimada para o consumidor, que é a multiplicação desses valores ao longo do tempo, uma vez que o contrato dura 30 anos, é de R$ 11,5 bilhões, calculou a Aneel.

Expansão de redes

Dois grupos econômicos verticalizados (que atuam nos diversos segmentos do setor elétrico, da geração à distribuição), CPFL e EDP, levaram dois dos lotes ofertados. A CPFL arrematou o Lote 3, composto por linhas de transmissão e subestações no Rio Grande do Sul e no Paraná, somando 115 km de novas linhas de 230 kV, que demandarão investimento da ordem de R$ 1,1 bilhão. Já a EDP conquistou o Lote 5, que contempla três linhas de transmissão em Goiás que somam 285 km.

Ao comentar as vitórias, as duas empresas salientaram o foco em investimentos na rede. Em comunicado, a CPFL disse priorizar projetos com sinergia operacional e perfil regulatório equilibrado. A companhia opera a distribuidora gaúcha RGE.

Já o presidente da EDP na América do Sul, João Brito Martins, afirmou que a aquisição “está totalmente alinhada à estratégia de crescimento em redes”. “No nosso caso, ganhamos uma concessão onde já temos uma presença forte, temos uma operação”, completou, referindo à EDP Goiás, empresa adquirida em 2022, a então Celg T.

Novata, mas nem tanto

Chamou atenção também a vitória da Shalom FIP Multiestratégia, que levou o Lote 1 com oferta de R$ 27,2 milhões, o que representa deságio de 57,51% em relação à RAP máxima fixada pela Aneel. O lote contempla trecho subterrâneo de uma linha de transmissão de 5,72 km para atender a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), em especial as sub-regiões Norte, Leste e Sul.

Apesar de o nome não ser conhecido do setor, o Secretário de Leilões da Aneel, Ivo Secchi Nazareno, afirmou que não se trata de empreendedor inédito. “Esses controladores já foram vencedores de alguns leilões. O veículo é novo, mas o empreendedor, não, e já fez, inclusive, obras de instalações subterrâneas aqui na cidade de São Paulo”, disse.

Durante discurso na solenidade de batida do martelo, o diretor da Shalom, Gustavo Pintor, afirmou que, até hoje, a ISA Energia Brasil (ex-ISA Cteep) e a equipe do Shalom são as únicas que “já performaram e operaram linhas subterrâneas em tensão de 345 kV de forma proprietária dentro da cidade de São Paulo”.

Outros lotes

Destaque também para participação do FIP Warehouse, do BTG Pactual, que arrematou o Lote 4 do leilão, o maior ofertado no certame, com volume de investimentos previstos de R$ 1,2 bilhão, segundo estimativa do regulador. O fundo ofertou R$ 116,23 milhões em RAP, o que equivale a deságio de 47,30%.

O lote é composto por duas linhas de transmissão que somam 348 km de extensão e uma subestação, e tem como objetivo ampliar a capacidade de transmissão do subsistema Acre-Rondônia, por meio de implantação de infraestrutura no Mato Grosso e em Rondônia.

Já a Rialma Administração e Participações levou o Lote 2 do certame ao ofertar R$ 85,9 milhões em RAP, montante que representa deságio de 36,73%, superando oferta em viva-voz da Axia Energia. Além delas, Alupar, BTG, EDP, Engie e Taesa estão entre as empresas que apresentaram lances. O lote inclui três linhas de transmissão que somam 336 km e uma subestação, com investimentos estimados em R$ 788,58 milhões. O projeto tem por objetivo viabilizar o escoamento da geração de eletricidade na área leste da região Nordeste e atender às regiões leste do Maranhão e centro-norte do Piauí.

Participaram do leilão um total de 20 proponentes, incluindo empresas tradicionais do setor de transmissão como Alupar, Celeo Redes, Cymi, Engie e Taesa, que, no entanto, não conseguiram arrematar nenhum dos lotes ofertados.

contato: ludmylla.rocha@broadcast.com.br e luciana.collet@estadao.com

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