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EUA: soja deve receber maior parte do pacote de ajuda aos produtores rurais

8 de outubro de 2025

Por Gabriel Azevedo

São Paulo, 08/10/2025 – Os produtores americanos de soja devem ser os maiores beneficiados pelo pacote de ajuda financeira que o governo dos Estados Unidos deve anunciar, em breve, para compensar as perdas causadas pela guerra comercial com a China. O programa, estimado entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões, deve seguir o mesmo modelo adotado durante o conflito tarifário anterior, segundo a consultoria AgResource, de Chicago. “O anúncio dos detalhes da ajuda aos produtores americanos é iminente. Hoje é o dia que vem sendo apontado há bastante tempo”, afirmou

O analista Ben Buckner, da AgResource, explicou em relatório que o formato deve se basear no antigo Market Facilitation Program (MFP), criado durante a guerra comercial de 2018, quando produtores de soja chegaram a receber o equivalente a US$ 1,50 por bushel, cerca de R$ 500 por tonelada nas cotações atuais. Segundo Buckner, as culturas mais prejudicadas pelas tarifas devem receber valores mais altos. Além da soja, o sorgo também deve ser contemplado, mas em proporção menor. “Todas as culturas devem ter algum valor atribuído, mas a soja será o foco”, disse.

A ajuda surge num momento delicado para o setor agrícola dos Estados Unidos, que enfrenta queda acentuada nas exportações de soja. A AgResource estima que a China não comprará soja americana neste mês, o que pode reduzir as vendas externas do país para entre 33 milhões e 38 milhões de toneladas na safra 2024/25, abaixo das projeções oficiais do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A ausência da China nas compras reforça o protagonismo do Brasil, que assumiu quase toda a fatia de mercado deixada pelos americanos. O País responde por cerca de 70% das importações chinesas de soja, consolidando-se como principal fornecedor global.

Apesar da expectativa em torno do pacote, Buckner destacou que os mercados agrícolas seguem travados atualmente, com pouca variação de preços e volatilidade praticamente nula. “Os mercados estão fazendo muito pouco. A volatilidade desapareceu e provavelmente vai continuar assim até aparecer algum grande evento que mude o jogo”, afirmou.

Segundo ele, o foco agora é o clima na América do Sul, já que a safra dos EUA está praticamente definida e sem surpresas. A AgResource avalia que o plantio da soja no Brasil segue dentro do padrão histórico, com leve atraso, mas sem prejuízos. Em Mato Grosso, o avanço das lavouras deve chegar a 30% da área até o fim desta semana, enquanto o Paraná pode alcançar quase 40%, ritmo acima da média dos últimos anos. “Tudo parece bastante normal na América do Sul”, disse Buckner.

A AgResource projeta que a produtividade global de grãos deve ultrapassar 4 toneladas por hectare na safra 2025/26, um recorde após quase dez anos de estagnação. O avanço, segundo a consultoria, deve ser puxado por safras cheias no Brasil e na Argentina, além de colheitas acima da média na Austrália e no Canadá. “O mundo está muito bem abastecido, e essa abundância de oferta é o que mantém os preços sem direção”, avaliou Buckner.

O mercado americano continua sem os relatórios do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), cancelados por causa da paralisação parcial do governo. O relatório de oferta e demanda de outubro não será divulgado e o de novembro também está em risco, caso o impasse orçamentário continue. Sem esses dados, o mercado se guia por estimativas privadas, que indicam produtividade média de 11,6 toneladas por hectare no milho e 3,6 toneladas por hectare na soja, praticamente estáveis em relação ao relatório anterior. A colheita americana está no auge. Nas próximas duas semanas, devem ser colhidos entre 50 milhões e 100 milhões de toneladas de milho, o que deve manter pressão sobre os preços.

Contato: gabriel.azevedo@estadao.com

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