Política
19/01/2018 07:32

Lula fala como se estivesse a um passo de seu retorno à presidência, diz jornal espanhol


Londres, 19/01/2018 - Próximo da data de seu julgamento, na quarta-feira da semana que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou a imprensa internacional em São Paulo ontem. "Lula fala, às vezes, como se estivesse a um passo de seu retorno à presidência e até mesmo diz que isso poderia facilitar uma recuperação da esquerda em toda a América Latina", considerou o jornal espanhol El País, que estampou como título da reportagem uma declaração do líder do Partido dos Trabalhadores: "Se uma condenação política proíbe Lula de ser candidato, seria uma fraude".

O "veterano político" de 72 anos disse aos jornalistas estrangeiros no Instituto Lula que vai lutar até o fim, não só para chegar às eleições, mas para defender sua "honra" e obter dos que o acusaram um pedido de desculpas. O periódico salienta que Lula sugere que, mesmo que ele seja condenado, irá apresentar todos os recursos legais para poder disputar a presidência do País. E insiste que as acusações contra ele não têm outra base além do desejo de uma parte do sistema judicial e grupos de comunicação para separá-lo da política.

Na semana que vem, em Porto Alegre, três juízes vão decidir sobre seu futuro político e sobre o destino imediato do País. O tribunal pode ratificar ou anular a sentença de mais de nove anos de prisão impostas pelo juiz Sérgio Moro a Lula depois de considerar que o líder do Partido dos Trabalhadores (PT) recebeu um apartamento na praia como um presente de uma empresa de construção em troca de contratos públicos. "Uma decisão contrária a Lula poderia levar a sua desqualificação em um momento em que todas as pesquisas lhe dão uma grande vantagem em relação às eleições de outubro próximo", trouxe o veículo espanhol.

O ex-presidente relatou estar com a tranquilidade dos inocentes, enquanto "eles" estão com a tranquilidade dos mentirosos. "Eles sabem que mentiram. Aqueles que me acusam sabem que um dia seu filho vai acordar e proclamar: "Pai, por que você mentiu sobre Lula?", declarou. Aos jornalistas, disse que tudo começou com uma mentira sobre a posse de um apartamento. "A partir daí, a polícia, o Ministério Público e o juiz Moro [o principal instrutor de Lava Jato, a grande operação contra a corrupção no Brasil] construíram uma acusação mentirosa. Como foi tudo, me faz pensar que estamos diante de um processo mais político do que legal", argumentou.

Lula disse que espera até agora que alguma evidência material de que ele possui um apartamento seja apresentada. "Se o objetivo é político, se eles querem me tirar de uma possível disputa, seria prudente apresentar a evidência porque eu seria totalmente desacreditado diante do povo brasileiro", defendeu. Para ele, o julgamento do dia 24 não é o "dia D", pois ainda tem mais outros 9 ou dez processos. "Não estou lutando para ser candidato, estou lutando para provar minha inocência. E não quero ser candidato para não ser condenado, quero ser absolvido de ser candidato."

Questionado sobre se o petista concorda com avaliações de que as eleições sem a sua participação seriam uma fraude, Lula disse que o problema não era ele, mas a democracia. "Tentar criar um processo legal para evitar que alguém seja candidato não é muito democrático. Não é o PT que está dizendo que as eleições sem mim é uma fraude, é uma campanha que envolve várias partes, movimentos sociais ... Se for proibido ser candidato a Lula por uma decisão política do judiciário, seria montado uma fraude Por que Lula está sendo desabilitado?, questionou acrescentando que tentará fazer da população "o grande júri da democracia neste País".

O ex-presidente negou que atue como se sentisse acima da Justiça. "Não, pelo contrário. Se eu não acreditasse na Justiça, não seria um democrata. Mas a Justiça deve ter um comportamento apolítico, agir pela Constituição, não por convicção. Porque aqui eles inventaram a teoria de 'Não tenho provas, mas tenho a convicção'", alegou. Ele criticou a atuação da imprensa nacional em relação a seu caso e citou que malas de dinheiro foram encontradas em várias casas, mas não na sua, assim como contas na Suíça. Para o petista, houve uma condenação sua pela mídia.

Sobre o "ódio" das ruas citado pelos jornalistas, inclusive contra ele, Lula respondeu que uma parte disso se deve à ascensão econômica de uma parte significativa das pessoas mais pobres. "Acho que essa é a razão pela qual uma parte da sociedade, que não sabe como compartilhar espaços públicos, não acredita na democracia ou na alternância de poder, criou um ódio. E precisamente vou ser um candidato para desfazer esse ódio e voltar para o povo brasileiro um clima de paz." (Célia Froufe, correspondente - celia.froufe@estadao.com)
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