Política
19/11/2020 19:59

Bolsonaro recua e diz que não acusará nenhum país de crime por importação de madeira ilegal


Por Nicholas Shores, Eduardo Gayer e Daniel Galvão

São Paulo, 19/11/2020 - Após várias ameaças, feitas desde a semana passada, de expor países que alegadamente comprariam madeira extraída ilegalmente do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro recuou e afirmou nesta quinta-feira (19) que não vai acusar nenhuma nação estrangeira de praticar ou ser conivente com crime de receptação. Em uma mudança de atitude, o mandatário disse em transmissão ao vivo nas redes sociais que daria o nome de empresas que importam madeira brasileira, seja ela legal ou ilegal, e revelaria o país de origem dessas companhias. Ele encerrou a live, sem no entanto, dar o nome de nenhuma empresa.

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) já havia dado um indício de que o governo federal poderia baixar o tom ao tratar do assunto da madeira ilegal. Mais cedo, o general da reserva pontuou que a relação de importadores de madeira ilegal da Amazônia é "uma questão de empresas", e não de países. Mourão avaliou ainda que a divulgação da lista prometida pelo chefe do Executivo não deve criar nenhuma crise diplomática com outras nações.

Ao lado do ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, e do superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, o presidente voltou a falar das críticas à política ambiental do seu governo vindas do exterior, mas, desta vez, admitiu que em “algumas oportunidades” as vozes críticas “até têm razão”. “Em outras, não”, ponderou. Em dado momento, Mendonça destoou do tom geral da transmissão e afirmou que “não adianta” o Brasil combater o desmatamento se outros países não combatem a receptação de madeira ilegal.

Desde a semana passada, quando chegou a prometer que protegeria a Amazônia "com pólvora", Bolsonaro vinha defendendo que países que criticam o Brasil compram madeira oriunda de desmatamento da floresta. Segundo vinha dizendo o presidente, bastaria esses países deixarem de comprar essa madeira que o desmatamento seria reduzido em 90%. Tanto em lives passadas como a apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, o chefe do Planalto garantiu que falaria o nome de “todos esses países que estão criticando e comprando a madeira”, inclusive apresentando “provas”.

Há uma semana, o presidente comentou também que são raros os países que têm Código Florestal, como é o caso do Brasil. "Você pega os países da Europa, a gente desconhece vegetação natural lá. Pode ser que haja pedacinhos perdidos por lá. Lá, se fala em vegetação ciliar, também não existe.”

Na transmissão de hoje, em meio a repetidas afirmações de que não quer culpar outros países em nada, ou de que não vai acusar “o país A, B ou C” da receptação de madeira extraída ilegalmente, Bolsonaro atribuiu, mais uma vez, as acusações contra o desmatamento detectado sob a sua administração a uma tentativa de enfraquecer a força comercial do agronegócio brasileiro. “A intenção é sempre nos deixar isolados na locomotiva da nossa economia”, sustentou.

Ele citou um suposto projeto no Reino Unido que, na sua versão, proibiria empresas britânicas de importar commodities de países que “realizam o desmatamento”, dizendo que esse tipo de ação visaria atingir o Brasil. Em seguida, comentou que, em 2021, a Inglaterra receberá a conferência do clima das Nações Unidas, a COP 26 - na verdade, o evento será em Glasgow, na Escócia.

Contato: nicholas.shores@estadao.com
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