Política
03/11/2017 07:42

Advogado diz que Marcello Miller mandou gravar reunião com advogados da Odebrecht


Senhores assinantes, retransmitimos nota publicada ontem às 20h33

Brasília, 02/11/2017 - Em depoimento prestado aos deputados Wadih Damous (PT-RJ) e Paulo Pimenta (PT-RS), o advogado Rodrigo Tacla Duran contou ter participado de uma reunião com integrantes da Lava Jato, em Curitiba (PR), na qual o ex-procurador Marcello Miller teria pedido a ele que gravasse uma conversa com advogados da Odebrecht.

O depoimento foi colhido no último sábado, dia 28, em Madri, na Espanha, onde Tacla Duran se mantêm foragido da Justiça brasileira. Os dois deputados fazem parte da CPMI da JBS. O advogado tem ordem de prisão expedida pelo juiz Sérgio Moro. Miller, por sua vez, está na mira da CPI por conta de sua atuação nas negociações do acordo de colaboração de executivos do Grupo J&F. O ex-procurador teria trabalhado para a empresa ainda enquanto ocupava o cargo no MPF.

De acordo com o advogado, o pedido de Miller teria acontecido durante uma das reuniões que participou com procuradores da Lava Jato para negociar um acordo de colaboração premiada, mas ele não especificou a data.

Ao ser questionado se manteve alguma relação com Miller, Tacla Duran disse que o ex-procurador e Sérgio Bruno, os dois à época integrantes do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR, participaram de algumas reuniões de negociação do acordo porque havia “interesse em saber se eu tinha alguma informação ou situações que envolvesse pessoas com foro privilegiado.”

Em um desses encontros na Procuradoria, detalha o advogado aos deputados, ele teria informado aos procuradores sobre uma reunião que fora convidado a participar com a presença de advogado da Odebrecht.

Na versão de Tacla Duran, neste momento Miller teria solicitado que ele gravasse a conversa dos advogados. “O Sérgio Bruno foi um pouco contra, se mostrou contrário ao que havia sido proposto, e disse: vai lá e conta pra nós depois”, diz o foragido.

O advogado afirmou aos deputado que as negociações do acordo de colaboração não avançaram porque as informações a serem entregues “desconstituía” a “versão que já vinha sendo criada” pelo Ministério Público Federal.

Responsável pelo depoimento, o deputado Paulo Pimenta defendeu que as informações revelam um padrão de comportamento de Miller. “São muitos os indícios que mostram uma forma de atuação [de Marcelo Miller], sem autorização judicial. Foi assim no caso do ex-senador Delcídio Amaral, do Sérgio Machado, do Joesley Batista e do Ricardo Saud. Em todos eles, o Miller estava. A partir dessas gravações, ele construía versões e delações”, afirmou o petista.

Odebrecht. No depoimento, Tacla Duran voltou a atacar o acordo firma pela Odebrecht e seus executivos. Apontado pela empresa como um dos responsáveis por movimentar dinheiro do departamento da propina por meio de contas no exterior, o advogado afirma serem falsos os recibos e extratos das contas e pagamentos efetuados por meio do Meinl Bank, em Antíguas.

“Não foram emitidos pelo Meinl Bank. Os extratos não são do padrão do sistema do banco. Tem incongruência de datas, de referência, de descrição do movimento”, diz ele. Indagado sobre um caso concreto em que os documentos entregues pelos delatores não condizem com a realidade, o advogado citou um inquérito sem detalhar qual.

“Um dos inquéritos que está correndo no STF, uma das contas, um dos anexos apresenta um extrato, em uma determinada data, com saldo positivo. Em outro anexo, no mesmo inquérito, um outro delator juntou extrato com saldo negativo na mesma data”, diz Tacla Duran.

Quando questionado sobre quem seriam os políticos delatados nesse inquérito, o advogado disse não ter certeza mas citou os nomes do deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ), o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o senador Humberto Costa.”Esses extratos só poderiam ser verídicos se houvesse movimentação na mesma data. Entretanto, essa movimentação é impossível, porque conta deveria estar bloqueada por conta dos crimes, e de fato está. O beneficiário da conta estava detido em Curitiba. E ninguém movimentava mais dinheiro e conta nesse banco porque o dinheiro estava travado”, completou.

Na opinião de Paulo Pimenta, esses indícios trazidos por Tacla Duran não podem ser ignorados. “Existem elementos que têm que ser investigados. Existe um conjunto de executivos e advogados da Odebrecht que fizeram delação e outros não. Na medida em que os que fizeram delação tem que ser investigados para saber se produz prova, aqueles que não fizeram [delação premiada] e falarem também têm de ser. Tudo aquilo que ele [Tacla Duran] fala sobre a manipulação do Meinl Bank, sobre como eram feitas as planilhas, precisa ser investigado”, defendeu o petista.

COM A PALAVRA, MILLER
A defesa de Marcello Miller disse que ele “nunca orientou ou sugeriu qualquer pessoa a fazer gravações para obter provas em processos de delação”. Em nota, a defesa de Miller afirmou que “como procurador, sempre exigiu, sim, provas de qualquer depoente para poder conferir a veracidade das informações prestadas”. A nota confirma que Miller esteve duas vezes com Tacla Duran, como integrante do grupo de trabalho da Lava Jato, mas que “não existe qualquer veracidade no depoimento” do advogado.

COM A PALAVRA, SÉRGIO BRUNO
Procurado, Sérgio Bruno não respondeu os contatos da reportagem.

COM A PALAVRA, ODEBRECHT
Já a empresa Odebrecht informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “as atividades do sr. Rodrigo Tacla Duran foram informadas pela empresa às autoridades no processo de colaboração com a Justiça”. “A Odebrecht vem colaborando com as investigações de forma definitiva, prestando todos os esclarecimentos necessários, e continua à disposição das autoridades. A qualidade e eficácia da colaboração da empresa vêm sendo comprovadas e têm sido instrumento valioso no combate à corrupção nas regiões onde atua.” (Fabio Serapião e Renan Truffi)
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast Político e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso