Política
05/06/2020 16:32

Pará tem pior situação no combate à Covid-19 e Santa Catarina tem melhor quadro, mostra CLP


Por Thaís Barcellos

São Paulo, 05/06/2020 - O Pará é o Estado com pior quadro no enfrentamento ao coronavírus entre as 27 unidades da federação atualmente, de acordo com o Ranking Covid-19 dos Estados, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP) e obtido com exclusividade pelo Broadcast. No ranking, criado para avaliar comparativamente como as ações dos Estados têm se refletido nos números, quanto maior a nota normalizada, pior é a avaliação no combate à doença. Depois, Rio de Janeiro, Roraima, Maranhão e Ceará completam o Top 5 de Estados com situação mais desfavorável no combate à pandemia. Na outra ponta, os Estados com melhor classificação no enfrentamento ao coronavírus são Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Amapá, Mato Grosso do Sul e Bahia, nessa ordem.



O ranking conta com atualização semanal (a última foi feita no dia 02/06) e usa a mesma metodologia do Ranking de Competitividade dos Estados, também elaborado pelo CLP e que vai para sua nona edição este ano. Para análise da atuação perante à pandemia, são usados nove indicadores: a proporção de casos confirmados, a evolução dos casos (em escala logarítmica) e o porcentual de mortalidade de Covid-19, conforme números do SUS, assim como os mesmos indicadores para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), fornecidos pela Fiocruz, além do Índice de Transparência da Covid-19, da Open Knowledge Brasil, e de dados de isolamento social, do Google.

De maneira geral, a proporção média de contaminados por Covid-19 por milhão de habitantes (pmh) no Brasil dobrou nas últimas duas semanas: de cerca de 1.355 para 3.120. Mas a boa notícia é que a taxa de mortalidade nacional caiu no mesmo período, de 4,58% para 3,94%. O CLP ainda destaca que a evolução dos casos perdeu força no País, indo de uma escala de até 0,80 na semana do dia 20 para até cerca de 0,50 atualmente, enquanto o grau de transparência subiu. Em relação à projeção da doença no Brasil, a expectativa é de que, até o dia 2 de julho, o número de óbitos ultrapasse 60 mil. O último balanço do Ministério da Saúde é de 34.021 vítimas fatais até o dia 4 de junho.

Em relação aos Estados, depois de oito semanas no topo da lista de pior quadro no enfrentamento ao coronavírus, o Amazonas melhorou a atuação e, agora, se encontra em sexto lugar entre os entes federativos com situação mais desfavorável. O Estado nortista também deixou a liderança de casos por milhão de habitantes e agora é o segundo com mais infectados: 9.494 por milhão de habitantes (pmh). A taxa de mortalidade também caiu de 7,02% na semana do dia 20, a quinta mais alta naquele momento, para 5,13% nesta semana (6ª maior), embora ainda acima da média nacional. O Amazonas também passou de 9º para 20º Estado com maior evolução da doença no período. Em relação à SRAG, um dos sintomas mais graves da Covid-19 e um indicativo de subnotificação, comum no Brasil com a falta de testes, a taxa de mortalidade tombou de 34,09% para 8,05%. A transparência, por sua vez, caiu de 93% para 50%.

"O Estado parece que está, efetivamente, conseguindo controlar a Covid-19", afirma o Head de Competitividade do CLP, José Henrique Nascimento. Citando notícias sobre ocupação da UTI no Estado, Nascimento destaca não só o investimento direto na área, como em leitos e respiradores, mas também mudanças na gestão, com protocolos de atendimento, que desafogou a rede de saúde estadual. Segundo o Amazonas, a ocupação de leitos de UTI destinados à Covid-19 estava em 70% no dia 3 de junho, porcentual que chegou a quase 100% no final de abril.

O Pará, por sua vez, quase triplicou o número de casos por milhão de habitantes (pmh), de 1.505 na semana do dia 20 de maio para 4.246 até o dia 2 de junho, passando de 9º para 7º Estado com maior proporção de vítimas. Já a taxa de mortalidade passou da segunda maior (9,31%) para a terceira maior (7,37%). A evolução de casos é a sétima maior do País (0,46). Há duas semanas, era a terceira maior (0,66). A transparência, em contrapartida, aumentou de 86% para 93%.

O caso do Rio de Janeiro também é emblemático. Na semana do dia 20 de maio, o Estado figurava com o 4º pior desempenho no combate ao coronavírus, pulando para segundo atualmente. O Estado continua com a maior taxa de mortalidade do País, embora tenha caído de 11,50% para 10,31% e o crescimento de casos por milhão de habitantes (pmh) esteja em linha com a média nacional. O governo fluminense ainda não flexibilizou o isolamento social, mas a capital já liberou alguns setores do comércio, inclusive de ambulantes.

Em contrapartida, Santa Catarina é exemplo de melhora no combate à pandemia, segundo o ranking do CLP. O Estado do Sul alcançou a melhor posição no enfrentamento à doença esta semana - da vice-liderança anteriormente -, se mantendo longe da média brasileira para proporção de casos por milhão de habitantes (1.213) e de taxa de mortalidade (1,59%). Além disso, Santa Catarina tem a quinta menor evolução de vítimas no País e alta transparência (95%).

Estado mais populoso e com maior peso econômico do País, São Paulo, que iniciou um processo de reabertura econômica nesta semana, também progrediu. Estava classificado com o 8º pior desempenho há duas semanas e, atualmente, encontra-se no meio da lista em 14%. A proporção de casos por milhão de habitantes (pmh) teve aumento mais gradual, ficando aquém da média brasileira (2.281), com a terceira menor evolução do País. A taxa de mortalidade também cedeu marginalmente, de 7,78% para 7,06%, mantendo-se, contudo, como a quarta maior entre as 27 unidades da federação. "A transparência (67%) e a taxa de isolamento (37%) podem melhorar um pouco. Mas os dados de São Paulo indicam que é o momento certo para tomar decisão de reabertura gradual. Há melhoria significativa em relação ao resto do Brasil", diz Nascimento, Head de Competitividade do CLP.

Há localidades ainda que mostram saltos em direções opostas no período de duas semanas. O Amapá trocou de lado: do terceiro pior no combate à pandemia ao terceiro melhor, com a evolução nas estatísticas de SRAG, de isolamento e de transparência. O Maranhão, por sua vez, deixou o grupo de cinco Estados mais bem classificados em relação à Covid-19 (23º) para a quarta posição entre o que têm desempenho mais desfavorável. Apesar de ter poucos casos por milhão de habitantes (pmh) de SRAG (3,39, ante 30,62 no Brasil), o Maranhão tem a maior taxa de mortalidade pela doença atualmente (33,33%, de 7,69% há duas semanas). Além disso, o Estado tem a terceira maior evolução de contaminados por Covid-19 no País, embora tenha diminuído a taxa de mortalidade, de 4,51% para 2,91%.

O que dizem os Estados

O governo do Rio de Janeiro afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o número de internação por Covid-19 tem caído, passando de 2.088 para 529 na 22ª semana epidemiológica (encerrada no dia 30 de maio). Da mesma forma, diz o governo, as internações por SRAG diminuíram, de 3.966 internações para 1.893. "O governo do Estado do Rio faz um monitoramento constante dos dados epidemiológicos e reuniões com grupos de especialistas em saúde para embasar a sua tomada de decisões para o controle da pandemia."

O governador de Santa Catarina, Carlos Moisés, avaliou, em nota, que o desempenho de Santa Catarina no Ranking Covid-19 dos Estados é reflexo das ações bem-sucedidas de enfrentamento à pandemia tomadas pela gestão estadual. "De maneira corajosa, fomos um dos primeiros estados a tomar medidas de isolamento social mais rigorosas, com fechamento de serviços não essenciais e restrição ao transporte coletivo. Atuamos também para estruturar a nossa rede hospitalar com ampliação de leitos de UTI. Todas as nossas decisões foram pautadas por critérios técnicos e científicos, o que nos permitiu salvar muitas vidas."

No caso de São Paulo, o governo, por meio de nota, disse que entende a reclassificação e progresso no ranking como reconhecimento dos esforços na gestão eficiente com relação à pandemia do novo coronavírus. O Estado destacou que foi o primeiro ente da federação a registrar caso de covid-19 e é epicentro da doença no Brasil. Consequentemente, há proporção mais expressiva de casos confirmados, porcentual de mortalidade e outros dados que estão intrinsecamente ligados à densidade demográfica (46 milhões de habitantes). "É natural que São Paulo se diferencie de outras Unidades da Federação."

O governo ainda reiterou que dobrou o número de leitos do SUS em todo território, com o apoio da prefeituras, e abriu licitação para contratar 4,5 mil leitos da rede privada, assim como tomou medidas na área econômica e social. Sobre a transparência, o Estado afirmou que criou um site específico sobre o tema do coronavírus em janeiro, antes da confirmação do primeiro caso, e tem feito coletivas diárias sobre a situação da pandemia no território estadual, além de disponibilizar boletins sobre a doença.

A Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão informou que não foi previamente ouvida sobre a formulação do mencionado ranking, nem teve acesso ao seu conteúdo, de forma que só se posicionará após ter conhecimento do mesmo. Segundo a secretaria, qualquer indicador que não leva em conta o número de testes realizados não conseguirá interpretar corretamente o número de casos e a evolução dos casos em escala logarítmica.

Até o momento do fechamento da matéria, Pará, Roraima e Ceará não haviam respondido os contatos da reportagem.

Cotato: thais.barcellos@estadao.com
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