Política
02/10/2022 09:00

Estados/Desafios/RJ: Amarrado financeiramente, Rio terá desafio de cumprir metas sociais


Por Sofia Aguiar

São Paulo, 26/09/2022 - Um dos maiores obstáculos à próxima gestão no governo do Rio de Janeiro terá como principal obstáculo o acordo de renegociação da dívida de R$ 150 bilhões do Estado. Na avaliação da doutora em Ciência Política e professora de Políticas Públicas da Universidade Federal Fluminense (UFF) Priscila Riscado, qualquer futuro governador estará "amarrado" financeiramente e, portanto, terá dificuldades em cumprir uma agenda social.

“Por exemplo, todos os candidatos prometem aumentar o número de policiais, aumentar o número de médicos. Só que aumentar todos esses quantitativos, seja de profissionais, seja de recursos em determinadas áreas, tem implicações no regime de recuperação fiscal do Estado do Rio de Janeiro”, declarou Priscila, em entrevista ao Broadcast Político.

Apesar da amarração financeira, Priscila avalia que é possível racionalizar o orçamento. De acordo com a cientista política, o futuro governador deve olhar para as principais demandas do cidadão fluminense que, em sua avaliação, continua sendo a violência no Estado e seus respectivos desdobramentos. “Então muito provavelmente o futuro governador deverá olhar para essa demanda, que vem seguida de saúde, emprego e educação. Ele pode olhar para essas demandas e otimizar os gastos públicos”, afirma.

Ao analisar a viabilidade de uma agenda social mesmo com gastos enxutos, contudo, Priscila afirma que o futuro governador esbarra na composição da Câmara. “A gente sabe que de nada adianta a boa vontade de um governador ou de um prefeito se não tiver aliados ao seu projeto, à sua agenda, na Câmara”, diz. “Acho que esse vai ser o desafio do candidato [ao governo] vencedor: ter, entre os deputados, parceiros em qualquer agenda propositiva no que diz respeito às políticas sociais.”

Saúde O grande desafio do Estado na Saúde é, na avaliação de Priscila, a alta fila de espera nos hospitais para procedimentos, sobretudo, de média e alta complexidade, tais como exames e cirurgias. A cientista política afirma que há concentração das demandas dos atendimentos em alguns hospitais, que ainda conta com equipe reduzida e falta de leitos. Segundo ela, a fila já era grande antes da pandemia da covid-19, mas foi agravada pela crise sanitária.

Educação Na área da educação, a oferta de vagas em creches ainda é escassa, o que impede com que muitas famílias possam trabalhar. Somado a isso, tem-se o baixo salário de professores da rede pública e a necessidade de melhoria das condições de trabalho dos profissionais.

Segurança Pública Priscila destaca que a construção de políticas públicas de segurança vão além de políticas relacionadas, diretamente, à polícia ou ao policiamento. Conforme aponta, no Rio de Janeiro, as políticas públicas de segurança são, tradicionalmente, construídas a partir de um suposto combate ao tráfico. “Essas são políticas que já se mostraram ineficientes ao longo dos anos”, destaca. Segundo a professora, o próximo governador deve focar em políticas conectadas a outras questões, como educação e emprego. “É claro que é importante ter operadores de segurança, mas você tem que investir, por exemplo, em inteligência da polícia.”
Transporte A cientista política diz que ainda há gargalos no Estado, sobretudo relacionados à mobilidade. Segundo ela, o grande desafio para o próximo governador será implementar uma integração de transportes públicos, como trem, metrô e ônibus, inexistente no Rio de Janeiro. “A melhoria na integração dos transportes, dos modais, é a chave para a gente ter um transporte público mais eficiente no Estado.” Paralelo a isso, a professora pontua a necessidade de se prover investimentos em transporte público.
Agricultura A falta de investimento na área é um dos principais desafios para a agricultura fluminense. Para Priscila, deve ser explorado o desenvolvimento da agricultura familiar e investimento do produtor de pequeno porte, pois, além de ser fonte de geração de emprego, possibilita maior fixação no território e desenvolvimento sustentável.
Meio Ambiente A falta de saneamento básico representa o principal desafio na agenda ambiental. Na avaliação da cientista política, áreas degradadas no Rio de Janeiro, como a Lagoa de Jacarepaguá, são resultados da falta de planejamento diante do crescimento populacional, aliado à ocupação desordenada em regiões que não deveriam ser para moradia no Estado. A professora pontua, inclusive, um fator de desigualdade econômica: as áreas mais pobres são as que mais sofrem com a falta de saneamento.

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