Economia & Mercados
10/05/2019 21:18

Grande banco vê lucro crescer quase 20% no primeiro trimestre, mas sente guerra de maquininhas


Por: Aline Bronzati

São Paulo, 10/05/2019 - Mesmo com as revisões para o desempenho da economia brasileira, os grandes bancos de varejo no Brasil aceleraram o crescimento dos lucros no início deste ano, apoiados, sobretudo, no crédito à pessoa física e um rescaldo de menores gastos com calotes. Por outro lado, a guerra das maquininhas no setor de adquirência impacta as receitas dessas instituições, obrigando-as a serem mais eficientes do lado dos custos para amortecer o efeito do aumento da concorrência neste segmento.

Juntos, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil entregaram lucro líquido de R$ 20,847 bilhões no primeiro trimestre, montante 19,8% maior que o registrado um ano antes, de R$ 17,406 bilhões. Ao começar 2019 com "pé direito", o BB entregou o maior crescimento no período, de mais de 40%, e, de quebra, emplacou o maior resultado trimestral de sua história, de R$ 4,247 bilhões, como reflexo da reestruturação feita nos últimos anos com maior foco em rentabilidade.

Do lado do crédito, contudo, o banco público ficou mais distante dos pares privados. Enquanto Bradesco, com a maior expansão, Santander e Itaú tiveram elevação média de 10,4%, conforme a Fitch Ratings, o BB entregou tímido crescimento de 0,8%. Segundo o presidente do BB, Rubem Novaes, a "economia está patinando" e acelerar a oferta de recursos nesse momento pode resultar em "bobagem" como o passado já mostrou.

Há consenso entre os presidentes dos grandes bancos de que um maior vigor do crédito virá apenas após a aprovação da reforma da Previdência cujo atraso conteve o desempenho das carteiras e manteve o investimento corporativo em banho-maria até mesmo no mercado de capitais. "Os bancos continuarão sendo cautelosos dadas às incertezas políticas e econômicas. O andamento das reformas pelo governo será fundamental para a consolidação mais robusta de uma tendência de crescimento por um período mais longo", avaliam Claudio Gallina e Esin Celasun, da Fitch Ratings, em breve comentário ao Broadcast.

Diante disso, o alvo continua sendo as pessoas físicas e ainda as pequenas e médias empresas, cujas margens são melhores. Sob a ótica das receitas, contudo, esse público desafia os bancos no segmento de adquirência por conta da "guerra de maquininhas" que se transformou o mercado de cartões no Brasil.

O Itaú resolveu até revisar sua projeção de desempenho, embora tal movimento ocorra tradicionalmente após o segundo trimestre. Ao adotar uma ofensiva comercial junto à Rede, o banco espera que sua margem financeira com clientes cresça entre 9% e 12% neste ano ante intervalo de alta que ia de 9,5% a 12,5%.

O presidente do Itaú, Candido Bracher, disse que não tem ilusão de que a competição vai se arrefecer. E, embora mão veja 'compensação' da menor receita vinda do braço de adquirência, o banco está focado em ser mais eficientes em custos. Aqui, também adotou novo guidance. O Itaú espera que suas despesas cresçam entre 3% e 6%, ante aumento que ia de 5% a 8%.

"Estamos convivendo com uma Selic de 6,5% ao ano, um nível concorrencial muito maior e novas empresas. Isso é ótimo e permite hoje, como no nosso caso, alguém no comércio financiar suas vendas a prazo a 2%", destacou o presidente do Santander, Sergio Rial, em entrevista ao Broadcast.

Os controladores da líder do setor Cielo também já sentem o impacto do ataque dos novos competidores. Em conversa com a imprensa, na manhã de quinta-feira (9), o vice-presidente de negócios de varejo do Banco do Brasil, Marcelo Labuto, admitiu que houve uma "leitura errada" por parte dos sócios - BB e Bradesco - da concorrência no setor de maquininhas. Depois de "deixar a desejar" em questões importantes para o seu negócio como market share e atendimento, a companhia, conforme ele, teve sua rota corrigida e voltou a aumentar sua base de clientes.

Diante de um cenário benigno em termos de resultados, os bancos seguem melhorando sua rentabilidade. Os calotes permaneceram sob controle no primeiro trimestre com alguns aumentos pontuais como reflexo do calendário, no qual o orçamento das famílias é mais pesado. O Itaú se manteve isolado entre seus pares com retorno sobre patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 23,6%. Na sequência, ficaram Santander, Bradesco e BB.

Ao permanecer atrás do Santander embora tenha melhorado o seu retorno, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, diz que o lugar não o preocupa. "Estou preocupado com o meu desafio. Acho que sempre dá para melhorar um pouco mais. Crescemos em um ano até um pouco mais do que eu poderia esperar. Mas acho que dá para melhorar ainda mais e crescer esse número além dos 20,5%", disse ele, em recente entrevista ao Broadcast.
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