Economia & Mercados
07/12/2022 12:55

Especial: Alta da inadimplência atinge todos os setores do varejo e é mais branda em duráveis


Por Talita Nascimento

São Paulo, 06/12/2022 - Enquanto a situação de inadimplência piorou como um todo no País, é possível ver uma diferença entre os atrasos de empresas com foco em venda de bens duráveis e as de vestuário. As companhias de varejo de moda têm apresentado uma porcentagem maior de atrasos dos pagamentos acima de 90 dias. De acordo com estudo elaborado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar), a diferença pode ser motivada pelo momento em que os créditos foram concedidos, uma vez que as varejistas de moda venderam mais no ano de 2022, quando os juros já estavam altos.

O professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA/USP) Daniel Bergmann, consultor do Ibevar, ressalta que o total de pessoas inadimplentes voltou a bater recorde no Brasil. Segundo o Serasa Experian, o País alcançou 68,4 milhões de inadimplentes em setembro de 2022, maior número desde o início do levantamento, em 2016. No entanto, a alta da inadimplência não impede que as varejistas preservem suas estratégias de crédito por meio de financeiras próprias.

Aperto na concessão de crédito
O cenário de maior pressão inflacionária e de endividamento das famílias acarretou, porém, um aumento da inadimplência média da carteira de crédito das varejistas em comparação com 2021. “Observa-se também, de modo geral, que no terceiro trimestre de 2022, as varejistas promoveram um maior volume de renegociações das dívidas e uma maior contenção na concessão de crédito dos cartões de bandeira própria e empréstimos pessoais”, considera Bergmann ao analisar os dados de empresas do ramo listadas na B3.

No entanto, o estudo mostra que as inadimplências do varejo no terceiro trimestre para bens não duráveis (Renner e Riachuelo) foram significativamente superiores do que as do mercado de bens duráveis (Magalu e Via Varejo). Para se ter uma ideia, a inadimplência acima de 90 dias da Renner ficou em 18,6% e em cerca de 20% na Riachuelo, enquanto na Via (dona da Casas Bahia e do Ponto) e no Magazine Luiza as taxas forma de 8,4% e 9,2%, respectivamente. Os modelos de oferecimento de crédito são diferentes, o que pode influenciar os resultados, mas, para Bergmann, o momento em que os créditos foram concedidos em maior volume também explica o quadro.

Consumo de bens mais caros caiu
As varejistas Magazine Luiza, Americanas e Via Varejo tiveram piora nas vendas no terceiro trimestre devido à exposição das empresas a categorias cíclicas que dependem de taxas de juros, inflação e concessão de crédito “Observamos, no geral, uma queda no consumo de produtos com alto tíquete como eletrodomésticos, smartphones e eletroeletrônicos em geral, pressionando as margens e o resultado operacional destas varejistas”, considera Bergmann.

Na opinião do professor, a pandemia acelerou a compra de eletroeletrônicos e eletrodomésticos pelo fato da maior parte das pessoas ficarem e terem que trabalhar em suas residências ou escritórios. “Tratava-se de um cenário de inflação controlada, baixa taxa de juros e de estímulos fiscais para promover o crescimento econômico”, diz.

“Já em 2022, os consumidores começaram, preferencialmente, a adquirir bens não duráveis [como vestuário] em um cenário de alta inflação, maior endividamento das famílias, juros de dois dígitos e alta dos preços das commodities, levando a uma maior inadimplência em comparação com os anos anteriores”, complementa.

Mesmo quem não viu índices preocupantes de atrasos passou a ser mais cauteloso na concessão de crédito. "Entendemos o momento de crescimento de inadimplência no mercado e, consequentemente, ao longo do terceiro trimestre, reduzimos exposição ao risco e fomos pontualmente mais seletivos. Relativamente, seguimos com indicadores abaixo do mercado e continuamos atentos ao ambiente econômico", afirmou a Via em seu balanço.

Da mesma maneira, o diretor financeiro da Lojas Renner, Daniel Martins dos Santos, na divulgação de resultados do terceiro trimestre, disse que a companhia tem sido mais cuidadosa na concessão de crédito. A melhora da inadimplência, em virtude da entrada de safras mais novas de crédito, ocorre de maneira mais lenta. “Na economia, a inadimplência continua alta e não tem cedido na velocidade que o mercado esperava”, afirmou o executivo. Ele disse que a perspectiva é de melhora, mas que a velocidade vai depender de como o indicador vai se comportar ao longo de 2023 no País.

Contato: talita.ferrari@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso