Economia & Mercados
03/08/2020 17:00

Especial: Casas veem Ibovespa em alta em agosto, mas com o "teto" cada vez mais próximo


Por Matheus Piovesana

São Paulo, 03/08/2020 - A redução dos riscos do cenário político e a expectativa de que os balanços das empresas listadas devem mostrar um segundo trimestre menos pior do que o esperado estão no radar de importantes casas de mercado em suas avaliações para a Bolsa brasileira em agosto. A visão dos analistas é de que a tendência é de que o Ibovespa continue em alta, mas que o potencial de avanço é limitado diante dos fundamentos atuais. Com isso, as poucas trocas de carteiras buscam nomes que ainda podem crescer, mas que, em alguns casos, também têm características defensivas.

Um dos pontos em comum nas análises é o de que a taxa Selic deve voltar a cair na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que termina na quarta (5). Com isso, a fuga do investidor local da renda fixa para a variável deve continuar a ser o gatilho da valorização do mercado acionário brasileiro. "Esperamos que o fenômeno de 'There is no alternative' (não há alternativa) continue, com os fluxos para fundos locais de ações subindo com o investidor buscando beta enquanto a Selic permanece em 2,25% ao ano", escreveram os analistas do Bank of America. A visão do BofA para o mercado brasileiro é de "marketweight", ou seja, de desempenho alinhado ao dos mercados internacionais.

Além dos juros baixos, porém, a chegada de novos estímulos monetários e fiscais em todo o mundo é outro fator que pesa nas análises. Para o BB Investimentos, por exemplo, é este "excesso de liquidez" que pode impedir uma correção no Ibovespa, contrabalançando os efeitos da retomada fraca da economia e dos resultados das companhias no segundo trimestre, o mais afetado, até aqui, pela pandemia da covid-19.

Ainda assim, o espaço para alta pode ser limitado. Na visão do BTG Pactual, por exemplo, o Ibovespa está muito próximo do "teto" a que pode chegar diante dos fundamentos atuais. Considerando a taxa de juros de longo prazo em 3,4%, a inflação em 2,5% e um crescimento real de 2% no PIB brasileiro, os analistas Carlos Sequeira e Osni Carfi calculam que o Índice pode chegar a 106.647 pontos. É um potencial de 3,2% de alta ante o fechamento da sexta-feira.

Poucas mudanças

Duas visões paralelas explicam a manutenção de boa parte dos nomes e setores escolhidos pelos bancos em suas carteiras: a de que a economia brasileira seguirá em sua gradual retomada, mas de que ainda assim, é um bom negócio se expor à China, primeiro país a entrar e a sair da crise provocada pela pandemia da covid-19. Este último ponto ajuda a explicar a presença de Vale ON nas carteiras de XP, BTG, BB-BI e BofA - nas quais já estava no último mês.

Atendendo ao primeiro ponto, Lojas Americanas PN está em três das quatro carteiras analisadas (apenas o BB-BI não a inclui em sua seleção). O aplicativo Ame Digital, propriedade compartilhada entre a empresa e sua controlada B2W, é a menina dos olhos graças às parcerias que já trouxe e que ainda pode trazer. A própria posição na varejista digital, aliás, é vista como uma forma de contrabalançar o efeito negativo da pandemia sobre o varejo físico.

É nas mudanças, porém, que as casas mostram diferenças de posição. O BTG, por exemplo, trocou as Units da SulAmérica pelos papéis ON da Oi, esperando uma alta relevante diante da disputa pelos ativos que a tele colocou à venda, em especial a Oi Móvel. O BB-BI também fez uma aposta em crescimento ao inserir Marfrig e Minerva na carteira, nos lugares de Klabin e Tupy, apostando na continuidade dos recordes de exportação de proteína do Brasil para outros mercados.

O BofA, por sua vez, preferiu inserir na carteira a ação da B3, esperando crescimento com o desenvolvimento do mercado acionário brasileiro, mas também bons retornos de dividendos, viés em geral mais buscado em ações de empresas consolidadas. A busca por essa mistura foi explicitada pela XP ao trocar a ação da Eztec pela da Locaweb, vista como uma tese de alta com a explosão do e-commerce no País, mas também como um nome mais resiliente por ter receitas recorrentes, de assinatura de serviços online.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com
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