Economia & Mercados
27/09/2021 08:59

Startups viram cérebro e braço de grandes empresas em inovação ESG


Por Elisa Calmon

São Paulo, 24/09/2021 - Com a agenda ESG no centro das atenções, empresas brasileiras têm recorrido às startups para inovar nas três áreas englobadas na sigla: meio ambiente, social e de governança. Opções não faltam. A Quintessa, aceleradora de negócios com impacto social, mapeou 4,5 mil startups nacionais que atuam nesse segmento. As soluções oferecidas incluem de logística reversa a capacitação de presos para o mercado de trabalho até reuso de gases refrigeradores. Na lista de companhias que abraçaram iniciativas desse tipo em parceria com a Quintessa aparecem nomes como Nubank, CPFL Energia, BRF, Ambev e Braskem.

O objetivo da aceleradora, que se classifica como sendo do setor "2,5", para se diferenciar do terceiro setor, é conciliar questões sociais e ambientais à mentalidade de negócios, segundo João Ceridono, gestor de parcerias da Quintessa, que atende majoritariamente representantes das áreas de indústria, saúde e 3º setor. "Quando juntamos os aspectos de ESG à lógica de negócios, é possível escalar essas iniciativas", diz ele. "Apesar do empreendedorismo social ser uma ferramenta importante, ganhar dinheiro é essencial para conseguir trazer impactos mais amplos e permanentes."

Entre as 250 startups aceleradas desde a criação da empresa em 2009, Ceridono destaca a Parças Developers School, selecionada em julho de 2020 para participar do programa de Venture Philanthropy, promovido pela Quintessa em parceria com a family office Península, da família Diniz, e a Provence Capital. A iniciativa capacita pessoas do sistema prisional e de áreas urbanas de baixa renda para atuar na área de tecnologia. Um ano depois, a Parça foi contemplada pelo fundo Semente Preta, ao qual o Nubank destina R$ 1 milhão a startups brasileiras com fundadores e/ou lideranças negras.

"Somos uma EdTech que atua no apagão técnico no setor de tecnologia da informação, com a formação de novos desenvolvedores de periferias e egressos de medidas socioeducativas", afirma o CEO e fundador da Parças, Alan Almeida. "Ajudamos empresas a recrutar talentos de um jeito simples e acertar em cheio na contratação de diversidade."

As soluções para ampliar a diversidade estão entre as mais procuradas pelas grandes empresas brasileiras quando se trata de ESG, de acordo com o representante da Quintessa. As questões relacionadas a emissões e logística reversa, assim como desenvolvimento territorial, também estão em alta. A última diz respeito a iniciativas para estimular economicamente as regiões nas quais as companhias atuam, incentivando o mutualismo entre o negócio e a comunidade local.

Um exemplo desse tipo de trabalho são as ações da CPFL em parceria com empresas de inovação. Com o apoio das startups Barkus e Poupa Certo, a companhia de eletricidade ofereceu cursos de educação financeira e eficiência energética para que clientes de baixa renda pudessem administrar melhor as contas. Além disso, promoveu capacitação de mulheres para reparos elétricos com a Se Vira Mulher.

Meio Ambiente

Na área ambiental, a Quintessa impulsionou a Green Mining, em parceria com a Braskem Labs, aceleradora de startups da petroquímica. O resultado foi a criação de um programa de incentivo à reciclagem de embalagens de tinta com a AkzoNobel, produtora da Tintas Coral. Apesar de usar a tecnologia para recuperar materiais recicláveis, evitando a exploração de recursos naturais e emissões de carbono, a base de sustentação da Green Mining é totalmente social, afirma o fundador da startup, Rodrigo Oliveira.

"Contratamos catadores, carroceiros e cooperados por meio da CLT, dando dignidade para trabalhar com reciclagem", diz Oliveira. "Somado a isso, com nossa ferramenta de rastreabilidade conseguimos garantir o compliance, fazendo um golaço em todas as áreas do ESG."

No mesmo setor, a Recigases, startup que compra gases refrigerantes usados, considerados bastante poluentes, os limpa quimicamente e revende mais barato para a indústria. Coca-Cola, Braskem, Whirlpool, 1001, Michelin, SuperVia e Michelin são algumas que utilizam o serviço oferecido pela empresa acelerada pela Quintessa.

Governança

Mesmo não sendo voltada exclusivamente para o segmento ESG, a aceleradora ACE Startups tem visto a demanda para esse tipo de serviço crescer entre os seus clientes. "A lógica do retorno a qualquer custo está sendo substituída pelo capitalismo de stakeholders", afirma o CEO da ACE, holding que controla a iniciativa, Luis Gustavo Lima. "Essa mudança de mentalidade colocou o ESG de vez na agenda corporativa, levando as empresas a procurarem ajuda e é aí que entram as startups."

No entanto, diz que tudo começa pela última letra da sigla. "Se uma empresa não tiver a questão da governança clara, entendendo quais são os seus propósitos, pode fazer as mudanças que for, mas não serão verdadeiras", afirma. Para Lima, chama a atenção o maior interesse corporativo pelas iniciativas de bem estar e apoio psicológico para os colaboradores. "A mudança precisa ser de dentro para fora", diz.

Não basta contribuir com o social e ambiental e deixar de lado a saúde dos próprios funcionários, afirma Luiz Fernando Lucas, especialista em integridade, ética, ESG e compliance e membro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Dessa forma, as startups são importantes aliadas, mas é necessário investir em uma mudança de cultura dentro das empresas.

"O ESG de uma companhia não pode ser totalmente terceirizado. As startups devem ser um braço mas não resolvem tudo", diz. "Elas são um elo da corrente que se rompe caso a empresa não tenha esse conjunto de valores como parte da sua filosofia."

Contato: elisa.ferreira@estadao.com
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