Economia & Mercados
22/06/2020 09:51

Mercado livre vê retomada gradual dos negócios com queda dos preços da energia


Por Wellington Bahnemann

São Paulo, 23/06/2020 - - Com a estabilização da queda do consumo de energia e da redução dos preços de longo prazo de energia, comercializadoras e geradores que atuam no mercado livre começam a verificar uma retomada gradual dos negócios para contratos firmados a partir de 2021 e 2022. O cenário favorável de preços, o melhor desde 2016, tem motivado os consumidores livres e alguns geradores a aproveitarem essa janela de oportunidade para firmar ou renovar os seus contratos de compra de energia em condições mais favoráveis para os próximos anos.

"Nas últimas semanas, alguns consumidores começaram a se movimentar para comprar produtos de longo prazo, entendendo que o preço chegou a um bom patamar", afirmou o diretor de Comercialização e Gestão de Clientes da EDP Brasil, Pedro Kurbhi, em entrevista ao Broadcast. "Não é uma corrida ou um boom, mas já vemos consumidores fazendo compras para 2021, 2022 e 2023", complementou.

No começo do ano, antes do início da pandemia e com o cenário hidrológico ainda incerto, o preço da energia convencional para 2021 girava em torno de R$ 180/MWh a R$ 190/MWh. Com as fortes chuvas registradas entre o final de janeiro e março, o que elevou o nível dos reservatórios das hidrelétricas, e a expressiva redução do consumo de energia, por conta das medidas de isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus, os preços para 2021 caíram para algo em torno de R$ 140/MWh a R$ 150/MWh.

Com início da pandemia, contudo, comercializadoras e geradoras viram os negócios no mercado livre caírem drasticamente, refletindo as incertezas na atividade econômica, o que impactou a carga de energia, e também na dinâmica dos preços, uma vez que não se sabia em que patamar o valor da energia iria se estabilizar. "Além da incerteza do consumidor em não ter uma previsibilidade sobre o seu consumo de energia no próximo ano, é um desincentivo enorme para ele ver que a cada semana os preços estavam caindo", avaliou o sócio-diretor da Nova Energia, Gustavo Machado.

De acordo com o Machado, o cenário atual é justamente o oposto. Isso porque, desde a segunda quinzena de maio, já é possível observar uma certa estabilidade na carga de energia, o que aumenta o nível de previsibilidade sobre o consumo futuro, e os preços de longo prazo pararam de cair e começaram a variar em torno de si mesmo. "A partir do momento que o mercado tem essa reação de sair para comprar, o preço para de cair", argumentou o executivo.

De fato, o índice de preços futuros de longo prazo (2021-2024) da Dcide, parceira da Agência Estado no Broadcast Energia, se estabilizou em torno da faixa de R$ 149/MWh e R$ 151/MWh desde a segunda quinzena de maio, após ter alcançando R$ 172/MWh em fevereiro deste ano. Com os consumidores retomando as compras, isso também leva as comercializadoras a buscarem energia de terceiros para atender a demanda dos seus clientes, aquecendo os negócios em todos os elos do mercado livre.

Gestão de risco

Assim como os preços de longo prazo, principalmente em 2021, caíram, os de curto prazo também foram influenciados pela atual conjuntura. Tradicionalmente, o preço de liquidação das diferenças (PLD), referência para os contratos de curto prazo, ficavam em torno de R$ 200/MWh e R$ 300/MWh nesta época do ano. Contudo, com a redução do consumo de energia e o alto nível dos reservatórios, o PLD tem girando em torno de R$ 100/MWh e a R$ 110/MWh, o que traz a tentação aos compradores de operar apenas em contratos de curto prazo para se aproveitar dos preços conjunturais mais baixos.

O diretor da Dcide, Henrique Felizzati, pondera que operar descontratado traz riscos ao consumidor, mesmo no cenário atual. Um dos argumentos apresentados é que, historicamente, os preços de curto prazo são mais elevados que os de longo prazo. Na média histórica entre 1999 e 2019, atualizada pelo IPCA, o PLD no Sudeste/Centro-Oeste ficou em torno de R$ 292/MWh, ou seja, acima dos R$ 150/MWh atuais.

Além disso, Felizzati disse que consumidor precisa levar em consideração a volatilidade nos preços de curto prazo, que é da ordem de 25%. De fato, nas duas últimas semanas, o PLD no Sudeste saiu de R$ 104,29/MWh para R$ 127,68/MWh. "A volatilidade indica que os preços poderiam cair também, mas estaria o consumidor, que geralmente não é um especialista no setor elétrica, disposto a tomar tal risco?", questionou o diretor da Dcide.

Segundo o diretor de Comercialização de Energia da Engie Brasil, Gabriel Mann, ainda há um contingente de consumidores que têm contratos vencendo em 2021 e que ainda não renovaram. "A maioria dos clientes, contudo, se contrata com um ano, 1,5 ano de antecedência. O grande contingente vai ser de 2022 para frente", afirmou o executivo, citando que os preços de 2022 foram bem menos impactados pelo atual cenário - quanto mais distante de hoje, menos o preço é influenciado por questões conjunturais.

De acordo com Mann, no caso da Engie, pouco menos de 10% dos consumidores de sua carteira ainda não fecharam as suas posições para 2021. Machado, da Nova Energia, comentou que em torno de 60% a 70% dos clientes da comercializadora a que ainda não fecharam contratos para 2021 estavam finalizando isso. "Já temos tido pedidos para contratos a partir de 2021 e 2022, com prazo variando entre um e três anos", disse o executivo da Nova Energia.

Contato: wellington.bahnemann@estadao.com
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