Economia & Mercados
04/06/2021 19:11

Cenário: No 'open banking', banco que tem mais pegada digital sai na frente


Por Marcelo Mota

São Paulo, 04/06/2021 - Para um banco, ser digital não é o oposto de ter agências. Ser digital, pra valer, é estar pronto para atender o cliente de uma maneira que ele jamais foi atendido. É a porta de entrada para o open banking. Se ela estiver somente entreaberta, o banco vai ter de entrar na arena aberta de lado, e pode ser abatido pela concorrência antes que consiga mostrar a que veio.

Os bancos, claro, sabem bem disso. Não por outra razão, correm contra o tempo para ajustar suas máquinas, algumas bem parrudas, à nova realidade. A última etapa do open banking entra no ar no mês que vem.

"O open banking vai além do digital, mas o digital está no centro das atenções", resume Thiago Borsari, diretor de negócios digitais do Banco do Brasil (BB). "Os dados vão ser o pilar da transformação do sistema financeiro para chegar no open banking. O canal mais eficaz para isso vai ser o digital."

Quando estiver valendo, a nova regra permitirá às instituições que aderirem atuar como um "multibanco". Ou seja, o cliente escolherá qual aplicativo de banco lhe é mais amigável, aquele em que é mais bem atendido e encontra o maior e melhor conjunto de soluções para as suas necessidades.

A partir daí, poderá operar todas as suas contas e até contratar algo usando recursos que estão na conta mantida em outra instituição. "A experiência no digital tem que ser muito boa. Hoje é tão fácil mudar de banco, de plataforma", salienta Borsari. "A ideia é que o banco tenha uma plataforma simples e que seja eficaz para a vida do cliente."

Nessa corrida, os bancões tradicionais partem em vantagem no volume de informações que detêm de seus clientes. Os digitais, por sua vez, oferecem a leveza e a maleabilidade de suas operações. Segundo estudo elaborado pela Idwall, startup que presta serviços de identificação virtual de documentos, "o tempo médio de aprovação em um banco nativo digital é três vezes menor que em um banco digitalizado."

Não por outro motivo, o maior banco da América Latina corre para transferir para uma nuvem pelo menos metade de sua operação gigantesca até o final de 2022. O Itaú Unibanco joga com o seu peso de 70 petabytes (bytes elevado à 15a potência) em informações de clientes armazenadas, mas, enquanto ainda os processa em seus próprios servidores, oferece logo seu banco digital iti, nascido na nuvem, a quem tem mais urgência.

Será com o iti que o Itaú se prestará ao papel de 'bank as a service', ou seja, oferecerá sua estrutura para acoplar em outra marca que queira oferecer serviços financeiros a seus clientes. Segundo o presidente do banco, Milton Maluhy, isso começará pelas marcas da casa, como Credicard, mas em seguida será oferecido a parceiros, como redes varejistas.

Pastinha 2.0

E aí entra em jogo não só a maleabilidade da operação, mas a capacidade disruptiva dos canais digitais, nos quais é possível aumentar a venda cruzada de produtos. "Para o pastinha, vender também seguro e cartão de crédito é praticamente impossível", conta o especialista no setor financeiro do Itaú BBA, Pedro Leduc, se referindo ao agente comercial tradicional de crédito, geralmente dedicado a um segmento específico.

Leduc e o time de analistas do Itaú BBA revisaram toda sua metodologia para conseguir avaliar mais precisamente os negócios digitais dos bancos. Para os bancos que partiram de uma estrutura existente, o novo método passou acoplar a cada linha de negócios seu correspondente digital e projetar o efeito multiplicador sobre a receita. Na primeira rodada, isso resultou na elevação do preço alvo que a casa tinha para as ações do banco Pan em 70%.

"Vai ter muito mais informação disponível e isso vai mudar por dentro como os nossos modelos analíticos para definir como abordar o cliente", afirma Borsari, do BB. E, se antes a abordagem inicial poderia ser na marra, com a compra de folhas de pagamento, por exemplo, agora esse clientes precisa ser reconquistado todos os dias.

"É importante que o salário caia na nossa plataforma? Sim, porque ali ele vai gerenciar o caixa dele, que é o principal. Mas se o cliente optar por cair em outro lugar, e a gente fizer essa gestão de caixa para ele, tudo bem", explica o diretor de negócios digitais do BB.

Na instituição bicentenária, quase um terço dos clientes já opera pelos canais digitais. No primeiro trimestre, 45% do volume financeiro contratado em crédito pessoal foi feito por via digital. É questão de tempo até que o canal responda pela maior parcela.

A clientela parece ansiosa e pronta para exercer seu pleno poder de barganha. Que comece logo a competição aberta.

Contato: marcelo.fernandes@estadao.com
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