Por Cynthia Decloedt
São Paulo, 20/05/2021- Uma nova fila de ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) está se formando e já conta com processos estimados em R$ 30 bilhões. A maior oferta esperada para essa janela é da Raízen, joint venture da Cosan e Shell, com potencial de superar os R$ 10 bilhões. As cimenteiras CSN Cimentos e a InterCement podem movimentar outros R$ 7 bilhões, enquanto a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do Grupo Votorantim, outros R$ 2 bilhões. Essas últimas três já formalizaram o pedido de análise de oferta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
As precificações da terceira temporada do ano de ofertas de ações começam no final de junho e as empresas usarão os números dos balanços do primeiro trimestre para convencer investidores de suas histórias de crescimento. Neste ano, grande parte das companhias que querem chegar à bolsa têm uma agenda de aquisições.
Na segunda janela, que terminou no início de maio, o total levantado ficou em torno de R$ 18 bilhões. Mais de R$ 10 bilhões de ofertas foram suspensas ou canceladas. Na primeira temporada de 2021, as empresas captaram R$ 33 bilhões, um recorde.
Outro bloco que se forma na fila de estreantes agora é de empresas do segmento de telefonia. A Brisanet, um dos maiores provedores de banda larga fixa no Brasil, com operações focadas no Nordeste, quer levar a companhia à bolsa em julho, com uma oferta de ações (IPO) para levantar até R$ 2 bilhões. A oferta ainda não chegou à CVM.
Mas já consta nos pedidos de análise da autarquia, o IPO da provedora de internet de banda larga por fibra óptica Desktop, umas das maiores plataformas de ISPs (Internet Service Provider ou Provedor de Serviços de Internet) do Brasil. A oferta tem como coordenador líder o Itaú BBA, além da atuação do UBS BB, do BTG Pactual e do Bradesco BBI.
A rede de academias Smart Fit, que já protocolou seu pedido de oferta na CVM, pretende movimentar R$ 1,7 bilhão. A operação tem como coordenador líder o Itaú BBA, além da atuação do Morgan Stanley e do Santander. De acordo com fontes, a gestora de recursos Dynamo, o Canada Pension Plan Investment Board (CPP) e a Novastar, afiliada do GIC Special Investments, podem ancorar quase metade da oferta.
Ainda entre as que já se posicionaram na CVM está a Multilaser, de bens de consumo com foco na baixa renda e com mais de 5 mil produtos de eletrodomésticos e de itens de informática, que retomou a ideia de levar adiante uma oferta que foi suspensa em 2018. Além dela, a plataforma TradersClub, voltada a investidores de varejo, pediu registro para sua oferta esperando movimentar algo em torno de R$ 700 milhões.
Nos bastidores do mercado, outra candidata comentada é a Companhia Mineira de Açucar e Alcool (CMAA), que tem atuação no segmento de bioenergia, e pode buscar fazer uma oferta nesta janela.
Instabilidade
A segunda temporada do ano, em que as operações foram precificadas em abril, deixou várias ofertas de fora, por conta da instabilidade política, diante das dificuldades do governo para fechar o orçamento, e econômica, em função da pandemia e lentidão na vacinação. A percepção é de um cenário local mais estável agora, o que pode ajudar a reduzir a volatilidade da Bolsa. O grosso das próximas precificações será feito em julho.
Por outro lado, o ambiente externo, no qual a perspectiva de inflação nos Estados Unidos começa a mexer com os patamares da curva de juros dos títulos do governo norte-americano, aparece como uma incerteza.
O que se espera é que as operações maiores, que têm liquidez, serão bem-sucedidas. Por outro lado, existe uma demanda por diversificação nas carteiras que tende a fazer os gestores, especialmente de fundos de longo prazo, buscarem novas histórias, especialmente aquelas ligadas à disrupção.
Talvez nesta próxima janela as companhias conseguirão chegar com preços mais justos, na avaliação de um investidor. Para ele, o cenário pouco mudou e provavelmente a seletividade vai continuar reinando.
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