Economia & Mercados
14/08/2020 11:50

Especial: "Seremos uma empresa muito mais eficiente em 2021", diz CEO da Azul


Por Cristian Favaro

São Paulo, 13/08/2020 - "Crises trazem oportunidades", disse o presidente da Azul, John Peter Rodgerson, nesta quinta-feira ao falar sobre o desempenho do grupo durante o segundo trimestre de 2020. A frase, que pode parecer clichê, provou-se inquestionável: empresas que chegarem ao outro lado dessa tempestade estarão muito mais sólidas para crescer - e isso não vale apenas para as aéreas. "Vamos ser uma empresa muito mais eficiente em 2021. Não tenho dúvidas disso. Crises trazem oportunidades. Algumas economias que fizemos para atravessar esse período vão ser permanentes", disse.

O desafio é árduo. Atingida em cheio pela pandemia do coronavírus, a Azul reportou um prejuízo líquido de R$ 2,9 bilhões no segundo trimestre de 2020, contra um lucro líquido de R$ 351,6 milhões em igual trimestre de 2019. A receita líquida ficou em R$ 401,6 milhões no trimestre, redução de 84,7% na comparação anual, sobretudo diante da queda de 86,9% no número de passageiros transportados.

O grupo não ficou de braços cruzados durante a crise e vai reduzir as despesas com salários em 40% no segundo semestre, fruto de acordo com diversas categorias. Negociaram ainda um novo perfil de pagamento com seus arrendadores de aeronaves, um dos principais custos fixos do negócio. A estimativa é pagar R$ 566 milhões em aluguel entre abril e dezembro de 2020, redução de 77% comparado com os contratos originais. Os aluguéis mensais menores serão compensados por valores superiores a partir de 2023, ou pela extensão de certos contratos a taxas de mercado.

Os executivos se comprometeram também a reduzir a queima de caixa durante a pandemia. No segundo trimestre, a estimativa era queimar, na média, R$ 4 milhões por dia. A meta agora é fechar o segundo semestre com queima média de R$ 3 milhões por dia. "Como temos uma posição de caixa bem maior do que isso, passamos uma visão aos investidores de que temos recurso para atravessar a crise", disse o diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores da aérea, Alexandre Malfitani. A empresa fechou o triemstre com R$ 3 bilhões em caixa, recebíveis e investimentos, queda de 28,6% na comparação anual. Malfitani disse que ainda negocia com bancos a rolagem de dívidas, assim como a linha de crédito prometida pelo BNDES.

A Azul trouxe também um cenário mais otimista para o setor. A estimativa agora é chegar ao fim do ano com 60% da demanda registrada antes do covid-19. Antes, a projeção era de apenas 40%. "Estamos muito satisfeitos com a evolução até agora. Estamos muito a frente do que estávamos projetando", disse o diretor e vice-presidente de Receitas da Azul, Abhi Manoj Shah. Depois de atingir pico de 70 voos por dia no ápice da crise, em abril, a Azul espera operar 400 voos em setembro. A empresa tem capacidade para mais de 900 voos por dia.

Apesar da abertura na legislação para reembolso de passagem diante de problemas com a pandemia, os passageiros estão optando por receber crédito da Azul. "O reembolso total é muito pequeno. Cerca de 80% das mudanças nos bilhetes nos últimos três meses são em crédito e não reembolso", disse Shah. Ele destacou que os pedidos de reembolso não representam um risco ao caixa. Ele já vê também uma melhora no preço médio das passagens nos últimos meses.

Em junho, a demanda por voos no mercado doméstico brasileiro (medida em passageiros quilômetros pagos, RPK) teve queda de 85% na comparação com junho de 2019, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). No pico da crise, em abril, a queda superou 90%. Por causa da pandemia, que levou a procura por voos para perto de zero, os bilhetes chegaram a custar até 40% menos no País de forma geral, segundo especialistas do setor.

Durante conferência, Rodgerson saudou também o governo brasileiro que, na visão do executivo, "tem se mostrado sensível ao setor aéreo". Neste mês, o presidente Jair Bolsonaro transformou em lei a MP 925. Entre as vitórias para as companhias aéreas está uma mudança na interpretação de dano moral. Agora, o consumidor terá de provar que houve efetivo prejuízo para pedir indenização das aéreas. Ainda conforme a lei, a empresa não responderá por dano moral ou material quando comprovar que não foi possível evitar o atraso ou cancelamento de voo.

Os analistas do Citi receberam com bons olhos o resultado da Azul. Apesar de destacarem um prejuízo acima do esperado pela casa, eles apontaram um sólido fluxo de caixa para o período, repleto de adversidades. O Citi ressaltou ainda o melhor cenário dado pela empresa para o fim do ano.

Contato: cristian.favaro@estadao.com
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