Economia & Mercados
15/09/2020 18:16

Especial: Fed deve manter juros, mas analistas esperam detalhes sobre meta de inflação e QE


Por Iander Porcella

São Paulo, 15/09/2020 - O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deverá manter a taxa básica de juros na faixa entre 0% e 0,25% ao ano na decisão de política monetária que será anunciada nesta quarta-feira, 16, mas analistas consultados pelo Broadcast esperam detalhes sobre as mudanças na meta de inflação que foram anunciadas pelo presidente da instituição, Jerome Powell, em agosto, no simpósio anual de Jackson Hole. Além disso, alguns especialistas não descartam alterações no programa de relaxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) que levem o Fed a comprar mais Treasuries de longo prazo para manter baixo o custo do financiamento nos Estados Unidos, no momento em que o país tenta impulsionar a economia e se recuperar da recessão causada pela pandemia de covid-19.

"Os dirigentes do Fed provavelmente usarão a reunião de setembro para planejar as próximas etapas e atualizar as previsões, em vez de ajustar a política", avalia o banco americano Citi, em relatório assinado pelos analistas Andrew Hollenhorst e Veronica Clark. Os profissionais esperam uma revisão para cima nas projeções da autoridade monetária para a inflação e o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA e apostam que o gráfico de pontos indicará, na média, juros próximos a zero até 2023 - o gráfico de pontos mais recente, de junho, apontou que nenhum dirigente esperava alta nas taxas antes de 2022.

"Quanto às novas projeções atualizadas, provavelmente veremos as expectativas de crescimento revisadas em alta para refletir os dados recentes mais fortes, com o desemprego revisado para baixo", avaliam, na mesma linha, analistas do banco holandês ING.

Principalmente na coletiva de imprensa de Powell, após o anúncio da decisão de juros, as atenções estarão voltadas para os detalhes sobre a revisão da estrutura de política monetária, com uma meta de inflação mais flexível. "Veremos o que isso significa na prática para a tomada de decisões do Federal Reserve. A conclusão só pode ser que as taxas de juros serão mantidas mais baixas por mais tempo", ressalta o economista-chefe internacional do ING, James Knightley.

No simpósio de Jackson Hole, no mês passado, o presidente do Fed informou que o BC americano irá tolerar períodos de inflação levemente acima de 2% para compensar momentos anteriores em que o indicador tenha ficado abaixo da meta. "Significativamente, o Fed reconheceu que uma inflação insuficiente pode ser tão ruim quanto o excesso de inflação", diz Knightley.

Analistas do banco de investimentos britânico NatWest esperam que o Fomc faça uma alteração no quarto parágrafo do comunicado, na frase "Ao determinar o momento e o tamanho dos ajustes futuros na orientação da política monetária, o Comitê avaliará as condições econômicas realizadas e esperadas em relação ao seu objetivo de emprego máximo e seu objetivo simétrico de inflação de 2%", para indicar que o Fed buscará, a partir de agora, "uma inflação média de 2% ao longo do tempo", mudança que também é esperada pelo ING e pelo Citi.

"É possível que os dirigentes do Fed optem por alterar a linguagem em torno das compras de ativos no comunicado, de um foco no 'funcionamento tranquilo do mercado' para fornecer, ou manter, acomodação", destacam os profissionais do NatWest. Os analistas, entretanto, não esperam que o Fed se comprometa a comprar Treasuries de prazo mais longo já na reunião desta semana.

Uma mudança na composição do QE, para ancorar os juros de longo prazo, porém, é esperada por outros analistas, como os do TD Securities. "O Fed precisará vincular claramente o QE à manutenção das taxas de longo prazo estáveis para ajudar a absorver o aumento na oferta nominal [de títulos]", afirmam em relatório. Na semana passada, os três leilões de Treasuries realizados pelo Departamento do Tesouro dos EUA registraram demanda abaixo da média recente, o que levou a uma inclinação da curva de juros e aumentou a percepção de que o Fed irá atuar logo para evitar um aumento do custo do financiamento de longo prazo. "O Fed pode desejar estender a duração média de suas compras de Treasuries", avalia o Citi, acrescentando que a instituição pode querer deixar claro que o objetivo do QE não será mais facilitar o funcionamento do mercado no curto prazo, mas sim apoiar a economia.

"Embora compras significativas na ponta curta tenham feito sentido quando o QE estava focado no funcionamento do mercado, estender a curva provavelmente seria mais eficaz para manter as condições financeiras acomodatícias, especialmente com o Tesouro aumentando a oferta ao longo da curva", diz o TD Securities.

Além da mudança na sentença sobre a meta de inflação, os profissionais do Citi antecipam outras três pequenas alterações no comunicado. No segundo parágrafo, o banco espera que a frase "a atividade econômica e o emprego começaram a se recuperar ligeiramente nos meses recentes" seja trocada por "a atividade econômica e o emprego começaram a se recuperar". No mesmo parágrafo, segundo a expectativa do Citi, a frase "as condições financeiras gerais melhoraram nos meses recentes" deve ser substituída por "as condições financeiras são favoráveis". No terceiro parágrafo, o Citi espera que a frase "a atual crise de saúde pública pesará fortemente sobre a atividade econômica, o emprego e a inflação" seja trocada por "o vírus está pesando sobre a atividade econômica, o emprego e a inflação".

Na visão de James Knightley, do ING, Jerome Powell deve enfatizar na coletiva de imprensa a mensagem de que o Fed não tem interesse em aumentar as taxas de juros tão cedo - o banqueiro central tem dito que o Fed "não está nem pensando em pensar em subir juros" - o que deve ancorar ainda mais as taxas de curto prazo. "Com poucos anúncios formais esperados e o mercado prevendo mudanças nas estimativas econômicas, a coletiva de imprensa é o local mais provável para surpresas dovish ou hawkish", dizem os analistas do Citi.

Contato: iander.porcella@estadao.com
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