Agronegócios
01/07/2022 11:41

Especial/Algodão: produtores baianos estimam manutenção a leve recuo na área plantada na safra 2022/23


Por Isadora Duarte

São Paulo, 09/06/2022 - A área plantada com algodão na Bahia tende a ficar estável ou até mesmo apresentar leve queda na safra 2022/23, estimam produtores locais e representantes do setor produtivo. O principal fator que limita o investimento na pluma, apontado pelos produtores, é o elevado custo de produção das lavouras, que aumentou cerca de 50% ante a safra anterior. Neste cenário, eles cogitam migrar parte da área com algodão para a soja, que apresenta custo mais baixo e rentabilidade semelhante. "Iremos diminuir 5% da área de algodão e destiná-la à soja, que demanda menos adubo. Nossa previsão inicial era ampliar lavoura de algodão, mas com o aumento do custo, optamos pelo recuo para talvez avançar na safra 2023/24", relatou o cotonicultor Júlio Cézar Busato, sócio do Grupo Fazenda Busato, ao Broadcast Agro , durante a 16ª edição da Bahia Farm Show, que terminou no sábado (4), em Luís Eduardo Magalhães (BA). Ele não revela área total plantada com a fibra em suas propriedades, localizadas em São Desidério, Baianópolis, Bom Jesus da Lapa e Jaborandi.

Esse relato já é considerado como tendência nas projeções da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). "Acreditamos que possa haver manutenção da área plantada ou ligeiro recuo. O investimento em algodão é quase três vezes superior ao da soja, que entrega praticamente a mesma rentabilidade com risco e investimento menor. Por isso, há competição por área", disse o presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi. Ele explicou que não há concorrência das áreas com milho, porque o cereal também exige alto investimento na produção. A Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado da Bahia (Aprosoja-BA) estima que cerca de 100 mil hectares de algodão e milho possam ser destinados à soja na próxima safra 2022/23. Bergamaschi, da Abapa, descarta, contudo, a possibilidade de uma redução expressiva na área ocupada com algodão no Estado em virtude da necessidade de manutenção dos mercados compradores conquistados.

A próxima safra será plantada no Estado a partir de novembro. Na safra 2021/22, que está sendo colhida, a Bahia semeou 307,652 mil hectares com a pluma, com produção prevista em 530 mil toneladas, estima a Abapa. Apesar do provável recuo na área, a produção em 2022/23 poderá ser maior, podendo atingir 580 mil toneladas, caso os investimentos em insumos sejam mantidos e a produtividade volte ao patamar de 310 a 315 arrobas por hectare, segundo projeção da Abapa. O Estado é o segundo maior produtor nacional da pluma, ficando atrás apenas de Mato Grosso. A produção está concentrada na região oeste, com cerca de 98% da área plantada, de 303 mil hectares em 2021/22.

Moisés Schmidt, presidente da Schmidt Agrícola, avaliou que o custo dos fertilizantes será determinante para a decisão final de plantio pelo produtor. "Todas culturas no Oeste da Bahia mostram bom comportamento de clima, oportunidades de mercado e preços. O ponto mais sensível nas decisões são os fertilizantes (oferta e preços), mas ainda é cedo para o produtor definir substituição de culturas. Acredito que o momento é de permanecer com as culturas plantadas na mesma proporção", avaliou. Ele prevê manter os mesmos números dedicados para cada cultura, em área total plantada de 37 mil hectares com grãos e algodão em Barreiras.

Na mesma linha, Walter Horita, diretor-presidente do Grupo Horita - um dos principais produtores de algodão do Estado -, declarou que o comportamento de preços do algodão até meados de agosto e setembro ainda pode influenciar na decisão de plantio do produtor até novembro. "Se houver elevação de preço do algodão, a intenção pode mudar. Neste momento, a soja também está com preços muito favoráveis e o que está influenciando na decisão é o custo de produção mais elevado do algodão, mas uma alta nas cotações da pluma pode direcionar até para ciclo de expansão de área", comentou Horita.

Caso a situação permaneça como está, com a soja apresentando rentabilidade semelhante ao do algodão, Horita acredita que poderá haver migração no oeste baiano de, no máximo, 50 a 60 mil hectares semeados com algodão para a oleaginosa, mas descarta redução de área de até 100 mil hectares. "Mesmo que a soja tenha maior liquidez, menor risco, exija menor estrutura de capital e tenha rentabilidade semelhante, não vejo redução expressiva na área de algodão. Hoje, os cotonicultores já têm estrutura nas fazendas para colheita e beneficiamento de algodão e tendem a não reduzir tanto área plantada, principalmente os que já possuem fertilizantes comprados", observou. Em suas fazendas, nos municípios de São Desidério, Correntina, Formosa do Rio Preto e Luís Eduardo Magalhães, Horita deve semear 36 mil hectares com algodão, ante 38 mil hectares plantados na temporada atual. A retração, segundo ele, deve-se à necessidade de rotação de culturas.

Já a produtora Alessandra Zanotto prevê ampliar em 20% as lavouras de algodão na safra 2022/23. "Nas últimas três safras, havia reduzido bem a área de algodão por necessidade de rotação de cultura. Para a próxima, mesmo com custo elevado, consegui travar 70% do custo na temporada anterior, o que me permite aumentar a área", afirmou Alessandra, ponderando que a leitura geral observada na região é de leve redução pelo impacto dos preços dos fertilizantes no custo total da safra. Alessandra calculou que o custo total de produção do algodão suba de R$ 12 mil a R$ 13 mil por hectare na safra 2021/22 para R$ 18 mil por hectare em 2022/23. Na safra 2021/22, ela cultivou cerca de 1 mil hectares com a pluma, de um total de 5 mil hectares de área plantada em Luís Eduardo Magalhães.

A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) calcula que o custo total de produção do algodão no País tenha aumentado de 45% a 50% entre a safra 2021/22, que está sendo colhida, e a 2022/23, que será plantada no fim do ano. "A rentabilidade da safra vai diminuir muito em relação à atual. Esse aumento no custo de produção, certamente, vai afetar a rentabilidade, que também vai depender do clima e da produtividade. A expectativa é que os preços não recuem para não termos problemas maiores na relação custo de produção versus rentabilidade", afirmou Busato, que também é presidente da Abrapa. De acordo com dados da Abrapa, o custo para produzir a pluma passou de US$ 2.400 por hectare para US$ 3 mil por hectare. Busato estimou que hoje para o produtor ter rentabilidade positiva com o atual custo de produção a pluma deveria ser negociada acima de US$ 1,00 por libra-peso.

Mesmo com o encarecimento dos insumos, a Abapa projeta que 80% dos fertilizantes e defensivos a serem aplicados na safra baiana de algodão 2022/23 já foram adquiridos pelos produtores. "Boa parte já está nas propriedades para uso na próxima safra, com custo cerca de 45% maior. Como algodão exige elevada adubação de nitrogenados, os fertilizantes pesam mais no custo e puxaram o aumento", comentou Bergamaschi.

Comercialização - A Abapa projeta que cerca de 40% da produção baiana da próxima temporada, com potencial produtivo de 580 mil toneladas, já foi comercializada antecipadamente. O volume, inferior na comparação com anos anteriores, deve-se à queda dos preços, avalia Bergamaschi. "Ainda há tempo para definir as vendas para 2022/23", comentou.

Nacionalmente, a Abrapa ainda não consolidou as estimativas para vendas da safra 2022/23, mas Busato acredita que o volume já comercializado ainda é pequeno. "Houve um descasamento do preço que o produtor conseguia vender este algodão que está sendo colhido, de US$ 1,20 por libra-peso, e da próxima safra que será plantada, de US$ 0,83 por libra-peso, o que retraiu os produtores porque abaixo de US$ 1,00 por libra-peso, dado o atual custo de produção, a rentabilidade talvez já seria negativa", concluiu Busato.

Contato: isadora.duarte@estadao.com
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