Agronegócios
18/11/2021 19:36

Insper/Marcos Jank: livro que lançamos hoje mostra que Agro brasileiro se comunica muito mal lá fora


Por Tânia Rabello

São Paulo, 18/11/2021 - O agronegócio brasileiro se comunica muito mal lá fora. Além disso, a regulamentação ambiental e climática do setor deve melhorar para que o País consiga se inserir e conquistar mais mercados, disse há pouco o coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank, em webinar de lançamento do livro "O Brasil no agronegócio global: reflexões sobre a inserção do agronegócio brasileiro nas principais macrorregiões do planeta". O livro, com 9 capítulos, é resultado da interação de alunos participantes do curso de Educação Executiva do Insper "O Brasil no Agronegócio Global", juntamente com pesquisadores do Centro de Agronegócio Global.

Segundo Jank, o País enfrenta "um problema gravíssimo de comunicação de sua imagem e dos produtos brasileiros no exterior". "O Brasil exporta commodities, que não chegam ao consumidor final, mas é bom lembrar que a imagem do Brasil chega ao consumidor final", alertou. Para o professor do Insper, trata-se de uma questão importante, "principalmente neste momento, em que há a questão ambiental, sanitária e geopolítica em jogo", disse.

Assim, ele relata que a questão de comunicação e imagem é o ponto principal, que aparece em todos os capítulos do livro no quesito de "recomendações políticas". Outro ponto, segundo Jank, é a necessidade de uma melhor regulamentação ambiental e climática. "Principalmente depois da pandemia de covid-19", disse. "Temos de trabalhar com muito mais atenção nesses aspectos porque isso pode prejudicar nossa inserção internacional."

Entre outras análises do livro, que já dispõe de edição digital (veja aqui), estão também os potenciais mercados que o Brasil pode conquistar ou ampliar no futuro, sobretudo no sul da Ásia, no Oriente Médio, Sudeste Asiático e África Subsaariana. Sem deixar de lado, porém, a União Europeia e os Estados Unidos, mercados que têm sido aproveitados por vários outros países exportadores, inclusive os da América Latina, em detrimento do Brasil.

Em relação à Europa, Jank alertou que, embora o market share do Brasil no bloco tenha caído ao longo dos anos, é necessário focar esforços lá "porque a União Europeia é formadora global de opinião". Jank lembrou, ainda sobre o bloco europeu, que o agronegócio brasileiro já chegou a destinar metade de suas exportações para lá e hoje elas não representam mais do que 16%. Disse também que o green deal "pode virar um instrumento protecionista importante" num continente já bastante protecionista.

De todo modo, ele citou que o livro demonstra que o Brasil é bastante diversificado em destinos para exportação. "Apesar da concentração na Ásia, com a China perfazendo 35% do faturamento dos embarques externos brasileiros, exportamos para grande quantidade de outros países", disse ele, acrescentando que neste ano o agro brasileiro deve faturar US$ 115 bilhões em exportações - 35% deste valor graças ao gigante asiático. "Mesmo assim, o Brasil é diversificado em destinos, apesar de termos concretizado poucos acordos comerciais, contribuindo com 6% a 7% das exportações mundiais."

Outra necessidade premente do agronegócio brasileiro é diversificar sua pauta de exportações. Para os Estados Unidos, por exemplo, o Brasil tem uma pauta muito concentrada, com carne bovina e laranja. "Na prática, somos concorrentes dos Estados Unidos, em relação à exportação de grãos." Mas Jank assinalou que países latino-americanos exportam para lá frutas, pescados e castanhas, produtos nos quais o Brasil é insignificante no mercado externo. "Nós, infelizmente, atuamos apenas com commodities, produtos dos quais os EUA são nossos concorrentes, e não nossos compradores."

Quanto à China, apesar de o gigante asiático ser o principal comprador de produtos do agronegócio brasileiro, ainda falta "credenciar o Brasil como fornecedor confiável e de longo prazo", disse. "Basta ver o recente episódio de suspensão das exportações de carne bovina para a China." Para o professor do Insper, as relações com a China têm sido, "infelizmente, muito oportunistas e de curto prazo", com sucessivas aberturas e suspensões de comércio. Então, para Jank, "é preciso trabalhar este mercado e principalmente não atacar a China desnecessariamente, como temos visto recentemente".

Contato: tania.rabello@estadao.com
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