Agronegócios
26/02/2018 10:10

Perspectiva: clima adverso na Argentina deve continuar no foco do mercado de grãos


São Paulo, 26/02/2018 - O mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) deve começar a semana sob influência do clima seco e quente na Argentina. Investidores monitoram as previsões do tempo para áreas produtoras argentinas, mas ficarão atentos também à relação de preços entre soja e milho, que pode determinar as intenções de plantio nos Estados Unidos. A demanda por grãos norte-americanos também continua no radar do mercado.

A soja fechou com ganhos na sexta-feira. O contrato maio subiu 4,25 cents (0,41%) e terminou a US$ 10,4750/bushel. A alta semanal foi de 1,45%. "O mercado ainda está focado no clima na Argentina, mas tem um teto. Bateu em US$ 10,50/bushel e não conseguiu romper esse patamar para o contrato maio. Produtor norte-americano também começa a vender. Os basis no interior dos EUA estão caindo com produtor fixando", disse o analista João Paulo Schaffer, da Agrinvest. Serviços meteorológicos indicam continuidade das condições secas com temperaturas altas na Argentina ao longo desta semana. Segundo o analista, há chuvas previstas para o próximo fim de semana, nos dias 2, 3 e 4 de fevereiro. "Tem que chover, porque, se isso não acontecer, teremos um problema. O mercado vai ficar de olho na questão climática da Argentina", assinalou. Entretanto, ele projetou que podem ser necessárias outras notícias altistas para ultrapassar a barreira de US$ 10,50/bushel. "Tem que ter algo um pouco mais forte na Argentina ou de demanda por soja dos EUA, que estaria fora do radar, para romper os US$ 10,50/bushel."´As chuvas previstas para a Argentina no próximo fim de semana são esparsas. Schaffer assinalou, contudo, que a soja tem uma rápida recuperação em situações de estresse e lembrou que, após as chuvas do fim de semana de 17 a 18 de fevereiro ao redor de 35 mm na Argentina, já foi possível observar recuperação no estado fisiológico das plantas. Por outro lado, o analista lembrou que a Bolsa de Cereais de Buenos Aires vem mostrando piora na situação das lavouras. "O relatório apontou que o porcentual de lavouras em situação normal a boa teve queda acentuada na última semana. Já a proporção de lavouras de regular a ruim está em 70% a 80%", disse.

Na sexta-feira, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgou suas projeções de oferta e demanda para 2018/19 para os EUA no Fórum de Perspectivas Agrícolas. A estimativa para a colheita de soja indica queda de 1,64%, para 4,32 bilhões de bushels (117,6 milhões de toneladas), com produtividade de 48,5 bushels por acre (3,26 toneladas por hectare). Em 2017/18, produtores norte-americanos colheram 4,392 bilhões de bushels (119,54 milhões de toneladas), com rendimento médio de 49,1 bushels por acre (3,3 toneladas por hectare). As reservas domésticas de soja devem recuar 13,2% para 460 milhões de bushels (12,52 milhões de toneladas), ante os 530 milhões de bushels (14,43 milhões de toneladas) da temporada de 2017/18. Segundo Schaffer, os números de área previstos pelo USDA no fórum ainda podem se alterar, com estímulo ao aumento no plantio de soja se os preços da oleaginosa continuarem firmes e o milho não acompanhar. O analista afirmou que o mercado deve ficar atento aos preços da soja e milho no fechamento do mês de fevereiro, quando ocorre a contratação de seguro de renda pelos produtores norte-americanos, utilizando o valor do contrato novembro da soja e dezembro do milho e médias regionais de produtividade.

No Brasil, a colheita da safra 2017/18 de soja atingiu 25% da área cultivada no Brasil na quinta-feira (22), informou a consultoria AgRural, em relatório semanal. O avanço em uma semana foi de oito pontos porcentuais, puxado por Mato Grosso, mas, segundo a consultoria, poderia ter sido maior, não fosse o ritmo ainda lento em outros Estados. Há um ano, 36% da safra estava colhida no Brasil. A média de cinco anos para o período é de 27%. Conforme a consultoria, em Mato Grosso, a colheita saltou de 45% para 61% da área em uma semana, se aproximando dos 65% de igual período de 2017. "Apesar das chuvas diárias e de ainda haver lotes saindo com excesso de umidade das lavouras, os volumes de chuva registrados nesta semana (semana passada) foram menores e os casos de perdas, que já eram pontuais, diminuíram", disse a AgRural. Nos demais Estados produtores, porém, o ritmo mais forte esperado para a segunda quinzena de fevereiro ainda não se confirmou, segundo a consultoria. Em Goiás, a colheita subiu de 18% para 30% da área. No Paraná, houve avanço de 5% para 11% na colheita. Em Mato Grosso do Sul, o porcentual de área colhida passou de 16% para 25%. Para a AgRural, o atraso em relação à safra passada deve diminuir nos próximos dias, caso a previsão de tempo mais seco se confirme nos dois Estados.

Quanto ao milho, os futuros fecharam perto da estabilidade na sexta-feira na CBOT. O vencimento maio do grão cedeu 0,25 cent (0,07%), para US$ 3,7450 por bushel. Na semana, esse contrato recuou 0,13%. O mercado foi influenciado pela alta do dólar ante as principais moedas, que torna commodities produzidas nos Estados Unidos menos atraentes para compradores estrangeiros, e por dados de vendas externas que não impressionaram. Esses fatores, porém, foram contrabalançados pela previsão de colheita e estoques menores nos EUA. Na sexta-feira, o USDA disse que exportadores venderam 1,56 milhão de toneladas de milho da safra 2017/18 na semana passada. O resultado representa queda de 21% ante a semana anterior e de 12% em relação à média das quatro semanas anteriores. Para 2018/19, foram vendidas 65.500 toneladas. As vendas totais, de 1,625 milhão de toneladas, vieram dentro do intervalo projetado por analistas, de 1 milhão a 2,050 milhões de toneladas. Separadamente, o USDA disse que a produção de milho no país deve somar 14,390 bilhões de bushels (365,51 milhões de toneladas) na temporada 2018/19, queda de 1,46% ante os 14,604 bilhões de bushels (370,94 milhões de toneladas) do ciclo atual. Quanto aos estoques domésticos ao fim de 2018/19, o governo dos EUA prevê uma redução de 3,4%, para 2,272 bilhões de bushels (57,71 milhões toneladas). Essas projeções foram divulgadas durante o Fórum de Perspectivas Agrícolas na semana passada.

O trigo terminou estável na sexta-feira, refletindo a previsão de queda dos estoques e de aumento da produção nos Estados Unidos. Durante o Fórum de Perspectivas Agrícolas, o USDA disse que as reservas do cereal ao fim de 2018/19 devem totalizar 931 milhões de bushels (25,34 milhões toneladas), redução de 7,73% ante o volume previsto para o ciclo atual, de 1 bilhão de bushels (27,46 milhões de toneladas). Já a produção na próxima temporada deve aumentar 5,62%, para 1,839 bilhão de bushels (50,05 milhões de toneladas), segundo o USDA. Em relatório semanal de vendas externas, o governo dos EUA disse que exportadores do país venderam 382.500 toneladas de trigo das safras 2017/18 e 2018/19 na semana passada. O número veio dentro do intervalo projetado por analistas, de 275 mil a 425 mil toneladas. Quanto ao clima nos EUA, áreas de trigo de inverno ao sul das Grandes Planícies devem continuar sem chuvas nesta semana, segundo o serviço meteorológico DTN. Na CBOT, o trigo para maio terminou sem variação, em US$ 4,6425 por bushel. Na semana, entretanto, o ganho foi de 1,42%.

Café: contratos sobem 0,5% na semana
Os contratos futuros de café arábica acumularam valorização de cerca de 0,5% na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base maio de 2018. Os contratos de arábica subiram 55 pontos no período em Nova York. As cotações encerraram na sexta-feira (2), a 121 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 124,60 cents (sexta, dia 16) e mínima de 118,55 cents (quinta, dia 22).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em seu boletim semanal que Destaca que, sem estoques governamentais pela primeira vez na história, mesmo com embarques baixos até o fim de junho, quando termina o atual ano-safra, o Brasil precisará ainda, para atender o consumo interno e as exportações, algo em torno de 21 milhões de sacas de 60 kg da atual safra brasileira. "É um grande volume de café e não é possível afirmar se o mercado conseguirá comprar todo esse café nas atuais bases de preço", informa Carvalhaes.

Apesar do feriado na segunda-feira nos EUA, quando a ICE Futures US não trabalhou, no restante da semana as cotações oscilaram bastante e o dólar se valorizou em relação ao real. "Nos momentos em que os contratos de café estavam em alta, saíram negócios no mercado físico com preços pouco acima dos da semana anterior", comenta Carvalhaes.

Açúcar: mercado em NY tem resistência a 13,50 centavos
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) busca novamente romper a resistência de 13,50 cents por libra-peso no contrato maio, o mais negociado, após a realização de lucros na sexta-feira (23). Esses papéis encerraram a semana passada em queda de 12 pontos, ou 0,88%, em 13,46 cents, corrigindo a forte alta do dia anterior, de 2,34%.

O contrato março vence esta semana e recompras nesse vencimento limitaram as perdas. A queda no fechamento de sexta-feira foi de apenas 3 pontos, para 13,68 cents. Com notícias do físico já conhecidas - oferta global em alta e superávit - os negócios do açúcar na ICE seguem dependentes do petróleo, em alta, e do dólar no Brasil, que recuou na sexta-feira.

Em teleconferência sobre os resultados do quarto trimestre de 2017 (4T17) e do ano civil de 2017 da Cosan, o diretor de relações com investidores da companhia Guilherme Machado, reforçou o discurso do mercado de que a safra 2018/2019 de cana-de-açúcar será mais alcooleira. No entanto, segundo ele, ao longo do ano a consolidação de uma oferta menor de açúcar pelo Brasil pode ajudar na recuperação dos preços da commodity.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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