Agronegócios
05/02/2018 10:33

Perspectiva: mercado de grãos continua de olho na demanda e no clima na América do Sul


São Paulo, 05/02/2018 - Investidores dos mercados futuros de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) devem começar a semana atentos às previsões do tempo para a América do Sul, especialmente para a Argentina, e à demanda por soja norte-americana. O mercado deve passar ainda por ajustes antes das projeções de oferta e demanda que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgará na quinta-feira (08).

Os futuros de soja na CBOT registraram a terceira queda consecutiva na sexta-feira, cedendo os ganhos obtidos no começo da semana passada. O vencimento março cedeu 6,25 cents (0,63%) e terminou a US$ 9,7875/bushel. O contrato acumulou queda semanal de 0,68%. Segundo a analista Ana Luiza Lodi, da INTL FCStone, as previsões para a Argentina seguem direcionando os mercados. "O mercado está olhando muito para a Argentina ainda. Tem previsões de que será um mês de fevereiro mais chuvoso." A analista ressaltou, contudo, que o clima por enquanto seguia seco e quente no país e que as previsões de curto prazo indicavam continuidade dessas condições. Conforme o serviço meteorológico DTN, a região central da Argentina receberia apenas chuvas esparsas até quarta-feira, com temperaturas elevadas. "Ainda é cedo para estimar uma quebra de safra, embora parte das lavouras esteja em etapas importantes. A perspectiva de um fevereiro mais chuvoso abriu espaço para a queda da soja."

Para o Brasil, as perspectivas de clima são positivas, segundo a analista. Entretanto, ela ponderou que na última semana precipitações em alguns pontos no médio-norte de Mato Grosso atenuaram o ritmo de colheita. "Em algumas áreas choveu bastante, muitas vezes não o dia inteiro, mas um volume alto, que atrapalha a entrada das máquinas no campo." Conforme Ana Luiza, para esta semana as chuvas continuam, mas com menor frequência e volume do que na semana passada. "Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul começaram a colher, mas estão bem no início, agora em fevereiro a colheita deve ganhar força", destacou a analista. A colheita da safra 2017/18 de soja no Brasil atingiu 6,4% da área plantada na quinta-feira (1º), atrás dos 10,1% do ano passado e levemente acima dos 6,3% da média de cinco anos, apontou a AgRural, em levantamento semanal. Conforme a consultoria, Mato Grosso tem 20,5% da área colhida. "Os trabalhos, entretanto, perderam um pouco do fôlego devido às chuvas", disse a consultoria. "Apesar dos grandes volumes recebidos em algumas regiões, a maioria dos produtores conseguiu manter as máquinas em campo porque as chuvas foram intercaladas por aberturas de sol." Segundo a AgRural, não há relatos de perdas por excesso de umidade. A consultoria elevou a sua previsão de produção de soja no Brasil em 2017/18 para 116,2 milhões de toneladas. Em janeiro, a previsão era de 114 milhões de toneladas. Se confirmado, o número representará novo recorde de produção, superando os 114,1 milhões de toneladas de 2016/17. "O aumento em relação a janeiro deveu-se a ajustes positivos nas produtividades esperadas no Paraná, em Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, na Bahia, no Maranhão, em Rondônia e nos três Estados do Centro-Oeste", disse a AgRural.

A demanda por soja dos EUA também continua no radar do mercado. Ana Luiza ressaltou que a preocupação com as vendas norte-americanas mais fracas se intensificou depois dos dados de exportações semanais dos EUA abaixo do esperado e com a aproximação do feriado de ano-novo chinês, ainda que na sexta-feira o USDA tenha divulgado reporte de venda avulsa de 108.860 toneladas de soja para o México com entrega em 2017/18. Nesta semana, o USDA divulga o seu relatório mensal de oferta e demanda. Novamente, existe o receio no mercado de uma revisão para baixo nas previsões de exportação dos EUA. Traders tendem a ajustar posições nas próximas sessões. "Não é um relatório que costume trazer algo significativo, mas deve ter algum ajuste de posições prévio. Em fevereiro o mercado espera mais o Fórum Agrícola onde se discute a área da próxima safra", lembrou a analista.

O milho terminou estável pelo terceiro pregão consecutivo na sexta-feira na CBOT. Assim como nos dois dias anteriores, o mercado operou em queda durante boa parte da sessão mas acabou se recuperando das perdas inicias com a forte demanda pelo grão norte-americano. O vencimento março cedeu 0,25 cent (0,07%) e terminou em US$ 3,6150 por bushel. Na semana, acumulou alta de 1,40%. Na sexta-feira, o USDA disse que exportadores relataram vendas de 365 mil toneladas de milho para destinos não revelados e para o Egito, com entrega prevista para 2017/18. O reporte veio na sequência de um relatório semanal de exportação mostrando demanda firme por milho norte-americano. Analistas dizem que os estoques disponíveis para exportação estão baixos em algumas partes do mundo, criando uma oportunidade para vendas dos EUA. Contudo, a queda do trigo influenciou o desempenho do milho. Os dois grãos tendem a se mover na mesma direção porque um é substituto direto do outro em ração animal. O avanço do dólar e o recuo do petróleo também pesaram sobre o desempenho do milho.

Os futuros de trigo negociados na CBOT fecharam em baixa na sexta-feira, pressionados pelo avanço do dólar no mercado internacional. A alta da moeda norte-americana torna commodities produzidas nos EUA menos competitivas. Na quinta-feira, o USDA disse que exportadores venderam 289.100 toneladas de trigo da safra 2017/18 na semana encerrada em 25 de janeiro. O volume representa queda de 32% ante a semana anterior. Traders também continuaram embolsando lucros após as altas recentes do grão. Na CBOT, o trigo para março recuou 4,25 cents (0,94%) e fechou em US$ 4,4675 por bushel. A alta na semana foi de 1,30%. Quanto ao clima nos EUA, a expectativa é de continuidade das condições secas no sul das Grandes Planícies, que não devem ter chuva significativa em breve, embora alguns locais possam receber neve nesta semana, segundo o DTN.

Café: contratos caem 3,8% na semana
Os contratos futuros de café arábica acumularam desvalorização de cerca de 3,8% na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base março de 2018. Os contratos de arábica caíram 475 pontos no período em Nova York. As cotações encerraram na sexta-feira (2), a 120,40 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 125,85 cents (segunda, dia 29) e mínima de 119,85 cents (sexta, dia 2).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), informa que o mercado físico brasileiro é comprador, mas trabalha com dificuldades. "As bases oferecidas continuam afastando boa parte dos vendedores e dificultando o fechamento de negócios em um volume maior", diz Carvalhaea. Diariamente saem negócios com lotes de produtores que precisam de "caixa" para cumprir compromissos próximos e não podem mais aguardar preços melhores.

Carvalhaes destaca também que, segundo informações que circulam na imprensa internacional, parte dos recursos necessários para as grandes aquisições que têm ocorrido no mercado internacional de café é conseguida com o alongamento, sem precedentes, nas condições de pagamento das compras de café verde (commodity) pelos grandes conglomerados que dominam a indústria de torrefação. À medida que a indústria de café se concentra, os comerciantes (traders) são pressionados a dar prazos mais longos para o pagamento do café verde.

Conforme Carvalhaes, somente os maiores comerciantes são capazes de fornecer prazos tão longos (até 300 dias) para os conglomerados. Esse movimento de concentração das indústrias acabará se replicando no lado do comércio, com uma maior concentração de comerciantes (traders) de café verde.

Açúcar: mercado pode dar sequência à recuperação
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) pode abrir a semana com a curva de alta iniciada na última quinta-feira (1º) e potencializada na sexta-feira (2) devido à restrição de oferta de açúcar no Centro-Sul do Brasil em 2018/2019. As previsões iniciais, feitas em novembro do ano passado, apontavam queda na produção da commodity na região brasileira e uma safra mais alcooleira. As primeiras revisões das estimativas, no entanto, mostram uma restrição maior no destino da cana-de-açúcar para a produção do adoçante e uma prioridade máxima para o biocombustível no período a ser iniciado em abril.

Na sexta-feira, a INTL FCStone aumentou a estimativa de moagem no Centro-Sul brasileiro de 587,5 milhões de toneladas para 592,5 milhões de toneladas em 2018/2019, alta de apenas 0,6% sobre 2017/2018, mas reduziu a perspectiva de produção de açúcar e do destino de matéria-prima para a produção da commodity no período. Segundo a consultoria, o mix de destino da cana ficará em apenas 42,4% para o açúcar, ante 44% na previsão inicial e a produção atingirá 32,4 milhões de toneladas na próxima safra da região.

O volume é 10% menor que em 2017/2018 e 2,7% abaixo da estimativa de novembro, de 33,3 milhões de toneladas. Mais pessimista, a Archer Consulting estimou a produção na região em 30,5 milhões de toneladas, queda de 16,5% entre as safras.

Em contrapartida, a INTL FCSTone revisou para cima a estimativa de superávit global de açúcar na safra 2017/2018 - entre outubro do ano passado e setembro deste ano - de 2,8 milhões de toneladas para 3,6 milhões de toneladas. Com isso, a primeira reação do mercado na ICE, na manhã de sexta-feira (2), foi de queda nos preços. Mas logo os papéis reagiram e fecharam em alta na bolsa americana.

O contrato março rompeu a resistência de 13,50 cents por libra-peso e, no fechamento, subiu 26 pontos (1,94%), em 13,63 cents. O maio ganhou 19 pontos, para 13,68 cents, e o julho fechou em 13,90 cents, alta de 12 pontos no dia.

(Leticia Pakulski, Cristian Favaro e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com, cristian.favaro@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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