Agronegócios
07/01/2019 10:26

Perspectiva: CBOT deve acompanhar safra de grãos sul-americana e paralisação parcial nos EUA


São Paulo, 07/01/2019 - Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) começam a semana atentos à perspectiva de safra sul-americana, ao encontro entre representantes dos Estados Unidos e da China em Pequim e à paralisação parcial do governo norte-americano. O mercado continua sem dados confiáveis sobre exportações dos Estados Unidos e o Departamento de Agricultura do país (USDA) não publicará o seu relatório mensal de oferta e demanda nesta semana.

A soja voltou a ser sustentada na sexta-feira por temores sobre a oferta brasileira e pelo otimismo de que saia um acordo da reunião EUA-China. Na sexta-feira, os futuros fecharam em alta pela terceira sessão consecutiva. O vencimento março subiu 8,75 cents (0,96%) e terminou a US$ 9,2150/bushel. Na semana, o ganho foi de 2,90%. Segundo a analista Andrea Cordeiro, da Labhoro, a falta de confirmações de demanda nos EUA contribuiu para direcionar o foco para o clima na América do Sul. "As vendas semanais e vendas extras não estão sendo nem contabilizadas. Na ausência dessas informações, que ajudam a direcionar os preços, o mercado ficou muito perdido", afirmou. Conforme Andrea, o único dado disponível sobre exportação é o relatório de inspeções para embarques nos portos norte-americanos. Nesta segunda-feira, esses números voltam a ser atualizados, o que pode provocar volatilidade nas cotações.

As discussões entre EUA e China continuaram no radar na semana passada, mas, sem números que comprovassem reflexos concretos nas vendas externas dos EUA, foram ofuscadas pelas notícias sobre as safras sul-americanas. "Existe toda uma gama de investidores que dá liquidez ao mercado e busca retorno financeiro. Como não tinham no horizonte de curto prazo respostas positivas sobre um acordo (entre EUA e China), acabaram direcionando o olhar para o clima mais adverso na América do Sul", apontou Andrea. Na sexta-feira, a consultoria INTL FCStone anunciou ter reduzido a sua previsão de produção de soja no Brasil em 2018/19 para 116,256 milhões de toneladas. Em dezembro, a projeção era de 120,219 milhões. "Com o clima bastante seco e quente, que predominou principalmente no Centro-Sul do País nas primeiras semanas de dezembro, o potencial produtivo de parte das lavouras foi afetado", disse. A consultoria ressaltou principalmente o caso do Paraná e de Mato Grosso do Sul, onde as plantas foram prejudicadas em fases importantes de desenvolvimento.

Para esta semana, traders acompanham ainda as conversas entre autoridades norte-americanas e chinesas. O governo chinês confirmou na sexta-feira que haverá reunião hoje e na terça-feira em Pequim com representantes dos EUA para tratar das divergências comerciais. A delegação norte-americana deve ser liderada pelo vice-representante de Comércio, Jeffrey D. Gerrish, afirmou o governo chinês, sem dar detalhes sobre a agenda ou os participantes. "O fato de não ser primeiro escalão do governo demonstra que ainda seriam tratativas, negociações iniciais, conversas para se tentar chegar a um horizonte e então partir para um entendimento final. Mas os EUA querem mais do que nunca esse entendimento, estão com armazéns cheios", apontou Andrea, da Labhoro.

Também nesta semana, traders devem continuar operando sem vários dados oficiais para tomada de decisões caso a paralisação do governo dos EUA não seja encerrada. O relatório semanal de exportações do USDA não foi divulgado na semana passada, a exemplo do que já havia ocorrido uma semana antes. Tampouco saiu o levantamento semanal de posicionamento de traders da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês). Em nota divulgada no seu site, o USDA ressaltou que mesmo que as operações do governo sejam retomadas em breve, o relatório mensal de oferta e demanda não será publicado na data inicialmente prevista por falta de tempo hábil. "A data de todas as publicações do Serviço Nacional de Estatística Agrícola (NASS, na sigla em inglês) e do Gabinete do Economista Chefe - Conselho da Produção Agrícola Mundial (OCE-WAOB, na sigla em inglês) será determinada e tornada pública assim que as atividades forem restabelecidas", disse o USDA.

Quanto ao milho, os contratos futuros fecharam em alta na sexta-feira na CBOT, com suporte na valorização do petróleo. O vencimento março subiu 3,25 cents (0,86%) e terminou a US$ 3,83/bushel. Na semana, o ganho chegou a 2%. Os futuros do petróleo subiram em Nova York e Londres, o que aumenta a competitividade relativa do etanol, que é produzido à base de milho nos Estados Unidos. Enquanto isso, a produção média de etanol nos EUA caiu 2,97% na semana encerrada em 28 de dezembro, para 1,011 milhão de barris por dia. Os números foram divulgados na sexta-feira pela Administração de Informação de Energia do país (EIA, na sigla em inglês). Os estoques do biocombustível permaneceram estáveis na semana, em 23,2 milhões de barris. O mercado também segue sem informações sobre vendas externas dos Estados Unidos com a paralisação parcial do governo norte-americano, mas aguarda dos dados de embarques norte-americanos, que devem sair hoje. A falta do relatório mensal de oferta e demanda, que seria divulgado em 11 de janeiro, também deixa investidores no escuro.

O trigo terminou a sexta-feira em alta em Chicago, esticando os ganhos das últimas duas sessões, sustentado por compras técnicas e pelo desempenho da soja e do milho. O mercado passou na semana passada por uma correção após perdas recentes, e o recuo do dólar ante as principais moedas contribuiu para os ganhos do cereal. Traders permanecem atentos às estratégias do governo russo sobre exportações. Quanto ao clima, no Meio-Oeste dos EUA, não há risco relacionado à baixa temperatura para o trigo vermelho de inverno. Sem novos dados de vendas dos EUA, os números de inspeção para exportação nos portos norte-americanos podem dar algum direcionamento aos preços. Na CBOT, o vencimento março do trigo subiu 3,25 cents (0,63%) e terminou em US$ 5,17 por bushel. Na semana, a alta foi de 1,08%.

Café: contratos caem 0,25% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de 0,25% (25 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base vencimento março de 2019. As cotações encerraram na sexta-feira (4), a 101,60 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 103,25 cents (quinta, dia 3) e mínima de 99,30 cents (segunda, dia 31).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que o mercado físico brasileiro de café praticamente não trabalhou na primeira semana de 2019, mais curta por causa do feriado de 1º de janeiro. Os contratos de café na ICE Futures US oscilaram bastante, principalmente com o recuo da cotação do dólar frente ao real, mas também com as seguidas manchetes sobre uma produção mundial de café pouco acima do consumo global.

Conforme Carvalhaes, "as ofertas em reais estão bastante baixas e certamente não cobrem as despesas e custos dos cafeicultores brasileiros".

Açúcar: mercado deve acompanhar fundamento de oferta e demanda
O mercado futuro de açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) tende a seguir os sinais de oferta. Nas últimas sessões, os contratos direcionaram-se descolados do cenário macroeconômico, como o movimento do petróleo e a variação cambial. O forte avanço de 2,05% (ou 24 pontos) do último pregão não foi capaz de compensar totalmente a queda acumulada de 3,71% na semana, fechando a 11,93 centavos de dólar/libra-peso em 4 de janeiro.

Tecnicamente, o suporte está em 11,61 cents/lp e a resistência em 12,52 cents/lp. Entretanto, os fatores técnicos tendem a exercer papel secundário no direcionamento das cotações do adoçante pela ausência de informações a respeito do posicionamento dos traders. As duas últimas edições do relatório semanal, divulgado pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), relativas a semana de 28 de dezembro e 4 de dezembro, foram suspensas, em virtude do funcionamento parcial do governo federal dos Estados Unidos. "Nesta semana, espera-se que os fundos indexados aumentem suas posições compradas em commodities agrícolas e que o açúcar seja historicamente barato entre os países, portanto, deve-se ver um pouco mais de ponderação", ressalva o vice-presidente da ED&F MAN Capital Markets, Michael McDougall.

Os sinais fundamentais de oferta e demanda do setor sucroenergético irão ditar as direções dos contratos em Nova York. Entre estes, a produção indiana de açúcar. Até 31 de dezembro, 11,052 milhões de toneladas de açúcar foram processados no país, segundo a Indian Sugar Mills Association (Isma, na sigla em inglês), associação de usinas daquele país.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Isadora Duarte - leticia.pakulski@estadao.com; tomas.okuda@estadao.com e isadora.duarte@estadao.com)
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast Agro e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso