Agronegócios
01/07/2022 11:41

Especial/Algodão: após seca, oeste baiano deve colher safra menor que o previsto


Por Isadora Duarte

São Paulo, 09/06/2022 - A estiagem em março e abril deste ano frustrou a expectativa dos produtores de algodão do oeste baiano, que devem retirar do campo uma produção menor que o inicialmente esperado. Os trabalhos de campo ainda são incipientes na região e tendem a se intensificar a partir do dia 15 deste mês, mas as perspectivas do setor produtivo apontam para recuo de até 15% na produtividade da fibra ante o potencial das lavouras. Isso porque a seca registrada na região, de cerca de 40 dias, afetou a pluma em período determinante para a definição do seu rendimento. Foi o que ocorreu nas fazendas da produtora Alessandra Zanotto que prevê redução de 10% na produtividade de suas lavouras de algodão, em relação ao potencial esperado. "Faltou chuva no período crítico de formação das maçãs", disse Alessandra, ao Broadcast Agro , durante a 16ª edição da Bahia Farm Show, que terminou no sábado (4), em Luís Eduardo Magalhães (BA). Ela cultiva cerca de 1 mil hectares com a pluma, de um total de 5 mil hectares de área plantada em Luís Eduardo Magalhães.

A região, formada pelos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras, São Desidério, Formosa do Rio Preto, Correntina, Santa Maria da Vitória, Cocos, Jaborandi, Baianópolis e Riachão das Neves, concentra 98% do total plantado com a fibra no Estado, com cerca de 303 mil hectares semeados na safra 2021/22. "Nesta safra, com clima adverso, devemos colher na região, em média, 290 arrobas de algodão por hectare ante 308 arrobas por hectare do ciclo passado. A expectativa era colher de 320 a 330 arrobas por hectare no oeste da Bahia, mas os preços internacionais estão excelentes, o que vai compensar a pequena perda de produção, além do grande apetite comprador", afirmou o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Odacil Ranzi. Ele lembra que 17% das lavouras de algodão da região são irrigadas, o que contribui para compensar a perda de produtividade em áreas que registraram seca.

O cotonicultor Júlio Cézar Busato, sócio do Grupo Fazenda Busato, detalhou que a produção de algodão no oeste da Bahia na safra atual foi prejudicada por dois fatores climáticos relacionados à chuva em diferentes momentos: excesso durante os meses de dezembro e janeiro e seca em março e abril. "Inicialmente, nossa preocupação era perder algodão por apodrecimento em vez de falta de chuva, porque choveu 1 mil milímetros quando deveria ter chovido 500 milímetros, mas mesmo assim conseguimos recuperar as lavouras para um ótimo potencial produtivo. Entretanto, as chuvas cessaram já no início de março, o que afundou o rendimento das lavouras", disse Busato, que também é presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Ele estima que em suas propriedades, localizadas em São Desidério, Baianópolis, Bom Jesus da Lapa e Jaborandi, o rendimento da pluma deve variar de 260 a 280 arrobas por hectare ante 330 arrobas por hectare inicialmente projetadas para sua área.

Walter Horita, diretor-presidente do Grupo Horita - um dos principais produtores de algodão do Estado -, declarou que os preços remuneradores da fibra tendem a compensar parcialmente as perdas de rendimento. "Não é grave perder de 10% a 12% em média de rendimento das lavouras. Por um lado, a maioria dos produtores locais também produz soja e milho, que tiveram boas produções. Além disso, o algodão está com preços firmes, acima do esperado, o que vai compensar bastante a perda de produtividade no balanço final da safra, garantindo, em geral, boa rentabilidade", destacou Horita.

Em suas fazendas, que somam 38 mil hectares plantados com algodão nos municípios de São Desidério, Correntina, Formosa do Rio Preto e Luís Eduardo Magalhães, Horita observou recuo da produtividade de 330 arrobas por hectare inicialmente projetados para, em média, 315 arrobas por hectare. "Haverá redução de produtividade, especialmente no sul do Oeste da Bahia (de Luís Eduardo Magalhães a Correntina), onde houve períodos mais secos, de 30 a 40 dias, com chuva insuficiente para repor déficit hídrico, para em média 290 arrobas por hectare. Já na região de Luís Eduardo a Formosa do Rio Preto, foram registrados maiores volumes de chuva e os rendimentos tendem a ser melhores, entre 340 e 350 arrobas por hectare", relatou Horita, destacando que ainda não iniciou a colheita das suas lavouras e , portanto, são estimativas. Ele calculou que o rendimento geral no oeste baiano tende a oscilar de 270 a 280 arrobas por hectare ante potencial estimado de 310 arrobas por hectare. "Sabendo que Mato Grosso também teve safra prejudicada por seca, podemos estimar redução em média de 15% na produção nacional, de 2,8 milhões de toneladas projetados inicialmente para cerca de 2,45 milhões de toneladas de algodão em pluma", projetou.

A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) informou que a produção estadual será menor em produtividade, mas não em volume de pluma, na comparação com a temporada passada. A associação estima produção estadual de 530 mil toneladas de algodão em pluma em 307,652 mil hectares. Presidente da entidade, Luiz Carlos Bergamaschi relatou que, apesar do menor rendimento que o esperado, a produção em volume ainda será superior à safra passada, quando foram colhidos 517 mil toneladas da commodity em pluma em área de 286,7 mil hectares com rendimento de 315 arrobas por hectare. "Nas últimas três safras, a Bahia vinha colhendo acima de 300 arrobas por hectare. Para 2021/22, a previsão era de produtividade de 311 arrobas por hectare. Porém, houve má distribuição de chuvas, levando à redução ante a média dos últimos anos para em torno de 280 a 300 arrobas por hectare", afirmou Bergamaschi. Em relação ao inicialmente projetado, a safra deve ser 10% menor ante 588 mil toneladas esperadas no início do ciclo. O Estado é o segundo maior produtor da pluma no País, ficando atrás apenas de Mato Grosso.

De acordo com Bergamaschi, mesmo com a redução em relação às expectativas iniciais, a safra tende a ser "remuneradora" para os produtores, já que a maior parte da pluma foi comercializada acima de US$ 0,80 por libra-peso e os insumos adquiridos em preços inferiores aos atuais. A Abapa calculou que aproximadamente 70% da produção da safra 2021/22 já foi vendida antecipadamente pelos cotonicultores. A maior parte da fibra deve entrar no mercado em meados de julho, após o período de beneficiamento.

Contato: isadora.duarte@estadao.com
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